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Fossa nova

Hoje acordei com um gosto de fossa na boca. Não adiantou. Escovei os dentes, lavei o céu da boca e nada. O hálito podre ainda persistia em permanecer durante toda a manhã. Não é a toa que neste exato momento estou ouvindo o primeiro disco do Ryan Adams, Heartbreak.
Muitas vontades percorreram meu cerebelo. Acender um cigarro e visualizar uma daquelas paisagens que aparecia nos comerciais da Malboro. Ou então percorrer de carro todo o estado do Alabama e admirar as estrelas em uma noite de verão americano. Aquela coisa de caipira com dor de cotovelo, elevada em últimas conseqüências, que nem mesmo um outro amor pode ajudar. Uma vontade de ser outro, redescobrir as obras do acaso, os destinos cruzados, os planos furados, as travessias tortas e os sentimentos destroçados. Sentir-me em queda com o declínio do inusitado, para retornar de maneira emblemática através de uma carta escrita no século passado. Mais precisamente, na década de 1960, ao som de Johnny Cash, Bob Dylan, Crosby, Neil Young e The Band. Um saudosismo que, talvez, eu tenha sobrevivido em outra encarnação, queimando os meus pulmões com tabaco e alcatrão, amplificado com uísque 12 anos que nunca consegui comprar.
É culpa do filme. É culpa do trailer. É culpa do "comming soon". Maldita classe hollywoodiana que massagea o ponto exato da massa cinzenta, despertando sensações que somente os sábios da indústria cinematográfica conseguem fazer. Malditos americanos que sabem o que fazem para noucatear com um soco de direita meu sensível fator de identificação.
Agora fico aqui, com um gosto de fossa na boca, querendo ser John Waine sensibilizado com um pôr-do-sol no Alabama. Isso não se faz.

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Dois

Do dicionário informal, a palavra "frustante" significa enganar a expectativa, ou seja, uma decepção. Apesar de ter sido uma delícia, no final, você resumiu com o adjetivo o ato. Também fiquei frustado. Mas de uma maneira diferente que a sua.  Como eu queria te satisfazer, não sentir o incômodo que me provocar reação perceptíveis que te deixam como uma lente sem foco, perdido à procura de uma imagem bela. O que eu posso dizer? Perdão. Continuarei conforme a vara for cutucando, até chegar a um acordo. Se você estará até lá comigo, isso não sei dizer. Acendi um cigarro para refletir a respeito, na sacada, admirando a chuva que caia. Pensei seriamente em dar um basta, cada qual cavalgando por estradas diferentes. Será que vale a pena? Sinto a presença do amor. Espero que eu não esteja errado quanto a isso, mesmo com os vários sinais que outrora você imprimiu. Enfim, vamos tentando ser dois. 

Férias

Finalmente curtindo as merecidas férias. O período de descanso é necessário. Aos poucos, estravasso o cheio a fim de alcançar o vazio. E assim vou enchendo novamente os novos cheiros, os novos sentimentos, as novas experiências e as novas mudanças. Tudo acompanhado ao som das ondas do mar, do oceano que banha as costas da Ilha do Mel. É incrível como este lugar me traz vigor, me renova. Por mais que sejam poucos dias, o proveito recicla a vontade de batalhar por mais um ano em um lugar que ainda não me encontro, não me solto, não exploro. Agora é sentar e relaxar o gozo de outras estações, ainda indefinidas nos planos e projetos que ainda não esbocei. Enquanto isso vou aproveitando as músicas que vão fazendo o meu verão. A nova bolacinha do Max de Castro não decepciona. Nem a coletânea do Blur. Mas o som da estação que vigora mesmo é o primeiro CD da Lauryn Hill. Uma delícia. E eu que achei que ia ouvir muito Jack Johnson. Que engano exacerbado. Ainda bem que errei.
É preciso manter os dois olhos atentos, como se estivessem sedentos por sangue, por amor, pela conquista de um novo terreno, mesmo que seja árido, úmido ou magnífico. É necessário duvidar do que o mentor em sala de aula projeta, arquiteta e repassa, como se aquilo não fosse a verdade absoluta, pois existem outras maneiras de se obter as mesmas informações do que entre as quatro paredes. É mandamento, sobretudo, amar tudo o que você entende como essencial para viver e desregar o abismo incrédulo dos preconceitos, independente se você nasceu, se criou e permaneceu em solos repletos da hipérbole do tradicional, do convencional, do puritano e conservador. Mas, é fundamental interpretar.