Eu posso estar me sentindo um traste, respirando merda em sala de perfume. Posso estar cheirando esgoto onde tem flores. Posso estar reclamando do barato, quando na verdade nem estou chapado. Posso estar pouco a vontade, mesmo andando pelado. Eu posso estar querendo muito, mas é com restos que ainda caminho. Eu posso estar errado. Eu posso ser o fracasso. Eu posso não estar ganhando elogios, algo que precisaria. Posso estar caindo pela esquina, mesmo bebendo pouco. Eu posso estar tendo uma crise, meia-idade, idade inteira, idade rasa. Eu posso estar desacreditado com o futuro, vivendo de passado, estraçalhando o presente. Eu posso estar sendo um bosta profissionalmente, tragando demasiadamente as carteiras, encerrando projetos, cuspindo gracejos. Eu posso estar muito errado. Extremamente errado. Eu posso estar falando asneiras, percorrendo a marginalidade, curtindo uma cicuta. Eu posso estar em uma sinuca, mas na realidade é um xadrez. Eu posso estar dizendo mentiras, vivendo verdades, odiando realidades. Posso estar cansado. Posso estar morrendo. Posso estar sobrevivendo. Eu posso estar noturno, sonhando saturnos e comendo soturnos. Posso estar volátil. Eu posso estar carente, querendo afago, palavras positivas, citações clichês. Só não quero ser estragado. Eu só queria um carinho, bem quietinho, mas só sabem tirar ainda mais o meu chão.
Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.