Estou meio vazio. Exatamente como aquelas percepções psicológicas de
perguntas subjetivas. “Você vê este copo meio cheio ou meio vazio?”. O problema
é minha falta de conteúdo. Antes, para escrever, as palavras brotavam lindas,
maduras, graúdas, como se tivessem sido plantadas em terras férteis de Machado
de Assis e regadas com Olavo Bilac, mas hoje estão cultivadas à base de Augusto
Cury.
A cada dia, sinto meu cérebro murchando, como se mal alimentado ele
reclamasse por mais sílabas nutritivas, por mais exercícios fraseais e por mais
temperos de vogais. Minhas preposições não são as mesmas nesse apanhado de
lamentação que me acompanha. Ao menos percebo que me encontro desnutrido num
momento que, eu luto, pelo contrário. Que o copo meio vazio se faça meio cheio,
transbordando palavras, parágrafos e páginas.