Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

segunda-feira, abril 28, 2014

Estou meio vazio. Exatamente como aquelas percepções psicológicas de perguntas subjetivas. “Você vê este copo meio cheio ou meio vazio?”. O problema é minha falta de conteúdo. Antes, para escrever, as palavras brotavam lindas, maduras, graúdas, como se tivessem sido plantadas em terras férteis de Machado de Assis e regadas com Olavo Bilac, mas hoje estão cultivadas à base de Augusto Cury.

A cada dia, sinto meu cérebro murchando, como se mal alimentado ele reclamasse por mais sílabas nutritivas, por mais exercícios fraseais e por mais temperos de vogais. Minhas preposições não são as mesmas nesse apanhado de lamentação que me acompanha. Ao menos percebo que me encontro desnutrido num momento que, eu luto, pelo contrário. Que o copo meio vazio se faça meio cheio, transbordando palavras, parágrafos e páginas. 

Maduro

Tenho aqui guardado
Um lindo sorriso
Que, todos os dias,

Me faz sentir amado.

Ao seu lado, gosto de ser engraçado.
Danço Afterline
Como se eu fosse um retardado.

Tenho aqui guardado
O meu melhor abraço
Que, todos os dias,
Não me faz sentir antiquado. 

Ao seu lado, eu percebo o futuro.
Ouço até One Direction
Mesmo que isso não seja algo maduro. 


domingo, abril 13, 2014

1h16

Eu ando meio impaciente para as coisas. Qualquer uma. Não sei se é algo da idade, algum problema cerebral ou critérios da vida. O fato é que quase tudo me enche o saco. Nesse momento, madrugada, o som que vem da rua me tirou o sono. Antes, meus colegas de apartamento entraram com uma turma estranha para fumar maconha. Pensando melhor, não sei se foi a música e as conversas externas que atrapalharam ou o cheiro da cannabis. Enfim, estou contando até 10. Até um Pai Nosso eu rezei. 

Eu acho que estou ficando velho. Estou me tornando tudo aquilo que eu criticava, inclusive a utilização de verbos no gerúndio. Um porre. Tento, agora, raciocinar as melhores palavras para descrever o momento. Todas me fogem, como se estivessem correndo de um predador. Algumas imploram por socorro. Eu, educado que sou, deixo-as irem embora. Para que obrigá-las a fazerem sua função de explicarem algo se não querem? 

Enfim, são 1h16 de domingo. 

sexta-feira, abril 11, 2014

Eu gosto do cheiro desse quarto. É perfume com papel higiênico, é esperma com alfazema, é delícia com veneno. Eu sinto demais, apenas, pelas janelas hoje abertas, que esvaziam o odor desse amor direto para a rua, onde um bando de amadores de música sertaneja esbravejam letras ridículas, de credos que os mesmos abaixam a cabeça durante orações na missa de domingo. É triste perceber que, nesse único caso, a marginalidade é outra, menos poética e pobre, ao contrário da canção do Jards Macalé que ouço agora, enquanto busco por um sono perdido em uma xícara de Nescafé. 

Não sei analisar calmamente esse momento. Não gosto de ser preconceituoso. Meu gênero, aliás, nem me permite essa colocação. Mas eu fico irritado com essa sonoridade oca que interrompe tantos ouvidos preguiçosos que, no fim, talvez nem queiram isso, e sim, goles de cerveja quente, muvuca e pegação. A aba do chapéu é sem atitude admirável. Por isso, ainda prefiro as frases de escárnio, do que o escárnio dito por duplas, que invertem a situação se dizendo à margem de uma cultura fraca, como se fossem pequenos coitados da noite, quando, na realidade, são fortes o suficiente. Dessa maneira, "quando você me encontrar, não fale comigo, não olhe para mim, eu posso chorar".