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Eu gosto do cheiro desse quarto. É perfume com papel higiênico, é esperma com alfazema, é delícia com veneno. Eu sinto demais, apenas, pelas janelas hoje abertas, que esvaziam o odor desse amor direto para a rua, onde um bando de amadores de música sertaneja esbravejam letras ridículas, de credos que os mesmos abaixam a cabeça durante orações na missa de domingo. É triste perceber que, nesse único caso, a marginalidade é outra, menos poética e pobre, ao contrário da canção do Jards Macalé que ouço agora, enquanto busco por um sono perdido em uma xícara de Nescafé. 

Não sei analisar calmamente esse momento. Não gosto de ser preconceituoso. Meu gênero, aliás, nem me permite essa colocação. Mas eu fico irritado com essa sonoridade oca que interrompe tantos ouvidos preguiçosos que, no fim, talvez nem queiram isso, e sim, goles de cerveja quente, muvuca e pegação. A aba do chapéu é sem atitude admirável. Por isso, ainda prefiro as frases de escárnio, do que o escárnio dito por duplas, que invertem a situação se dizendo à margem de uma cultura fraca, como se fossem pequenos coitados da noite, quando, na realidade, são fortes o suficiente. Dessa maneira, "quando você me encontrar, não fale comigo, não olhe para mim, eu posso chorar". 

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Alguém me disse que uma das melhores coisas para se esquecer um amor é escrevendo sobre ele, analisando os fatos. Não sei dizer se isso é verdade, mas sei que dói. Tenho quase 30 anos e já tive desilusões amorosas e confesso: as outras foram mais fáceis. Certa vez um amigo comentou que só existe um grande amor na vida. E eu passei a acreditar nisso. Muitos profissionais dessa área, afinal, praticar o amor é viver em sofrimento e dedicação trabalhista, procuram no bar mais próximo o método para esquecer o momento do rompimento. Eu não tive essa oportunidade, pois o bar mais próximo era muito, mas muito longe. O detalhe é que o rompimento aconteceu na casa da pessoa que até então se declarava, que dizia: depois de tudo o que passamos, terminarmos seria um erro. Puta merda! Tem ideia de como me sinto quando lembro dessa frase? Quando isso acontece, logo me vem à cabeça os bens materiais. Por que gastei? Para que comprar um perfume tão caro? Para reconquistar? Sim, e olha no que deu. E a c...