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Eu gosto do cheiro desse quarto. É perfume com papel higiênico, é esperma com alfazema, é delícia com veneno. Eu sinto demais, apenas, pelas janelas hoje abertas, que esvaziam o odor desse amor direto para a rua, onde um bando de amadores de música sertaneja esbravejam letras ridículas, de credos que os mesmos abaixam a cabeça durante orações na missa de domingo. É triste perceber que, nesse único caso, a marginalidade é outra, menos poética e pobre, ao contrário da canção do Jards Macalé que ouço agora, enquanto busco por um sono perdido em uma xícara de Nescafé. 

Não sei analisar calmamente esse momento. Não gosto de ser preconceituoso. Meu gênero, aliás, nem me permite essa colocação. Mas eu fico irritado com essa sonoridade oca que interrompe tantos ouvidos preguiçosos que, no fim, talvez nem queiram isso, e sim, goles de cerveja quente, muvuca e pegação. A aba do chapéu é sem atitude admirável. Por isso, ainda prefiro as frases de escárnio, do que o escárnio dito por duplas, que invertem a situação se dizendo à margem de uma cultura fraca, como se fossem pequenos coitados da noite, quando, na realidade, são fortes o suficiente. Dessa maneira, "quando você me encontrar, não fale comigo, não olhe para mim, eu posso chorar". 

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Dois

Do dicionário informal, a palavra "frustante" significa enganar a expectativa, ou seja, uma decepção. Apesar de ter sido uma delícia, no final, você resumiu com o adjetivo o ato. Também fiquei frustado. Mas de uma maneira diferente que a sua.  Como eu queria te satisfazer, não sentir o incômodo que me provocar reação perceptíveis que te deixam como uma lente sem foco, perdido à procura de uma imagem bela. O que eu posso dizer? Perdão. Continuarei conforme a vara for cutucando, até chegar a um acordo. Se você estará até lá comigo, isso não sei dizer. Acendi um cigarro para refletir a respeito, na sacada, admirando a chuva que caia. Pensei seriamente em dar um basta, cada qual cavalgando por estradas diferentes. Será que vale a pena? Sinto a presença do amor. Espero que eu não esteja errado quanto a isso, mesmo com os vários sinais que outrora você imprimiu. Enfim, vamos tentando ser dois. 

Férias

Finalmente curtindo as merecidas férias. O período de descanso é necessário. Aos poucos, estravasso o cheio a fim de alcançar o vazio. E assim vou enchendo novamente os novos cheiros, os novos sentimentos, as novas experiências e as novas mudanças. Tudo acompanhado ao som das ondas do mar, do oceano que banha as costas da Ilha do Mel. É incrível como este lugar me traz vigor, me renova. Por mais que sejam poucos dias, o proveito recicla a vontade de batalhar por mais um ano em um lugar que ainda não me encontro, não me solto, não exploro. Agora é sentar e relaxar o gozo de outras estações, ainda indefinidas nos planos e projetos que ainda não esbocei. Enquanto isso vou aproveitando as músicas que vão fazendo o meu verão. A nova bolacinha do Max de Castro não decepciona. Nem a coletânea do Blur. Mas o som da estação que vigora mesmo é o primeiro CD da Lauryn Hill. Uma delícia. E eu que achei que ia ouvir muito Jack Johnson. Que engano exacerbado. Ainda bem que errei.
É preciso manter os dois olhos atentos, como se estivessem sedentos por sangue, por amor, pela conquista de um novo terreno, mesmo que seja árido, úmido ou magnífico. É necessário duvidar do que o mentor em sala de aula projeta, arquiteta e repassa, como se aquilo não fosse a verdade absoluta, pois existem outras maneiras de se obter as mesmas informações do que entre as quatro paredes. É mandamento, sobretudo, amar tudo o que você entende como essencial para viver e desregar o abismo incrédulo dos preconceitos, independente se você nasceu, se criou e permaneceu em solos repletos da hipérbole do tradicional, do convencional, do puritano e conservador. Mas, é fundamental interpretar.