O transe coletivo manifestou uma onda de sentimentos em cada
olhar que recebia o alimento em forma de luzes e sons. A catarse se espelhava
na boca que emitia berros repletos de simbologias. A vida ganhava novos
sentidos através dos acordes introdutórios. A canção era a oração pop mais
perfeita.
A emoção era percebida de várias maneiras, nas lágrimas, nas
palmas, nos gritos e, sobretudo, nos rostos. O sorriso mais perfeito com
certeza teria sido encontrado lá, entre centenas de indivíduos que estavam em
uma rota de colisão com a sinestesia do belo. David Bowie dava razão enquanto a
vazão se espalhava entre os corpos presentes. Os lábios se abriam. A emissão da
garganta em trêmulo, por vezes, ecoava o anel, a pista, as laterais e o céu.
Tudo parecia perfeito, mas a impressão era mais do que essa. Era uma definição
que não cabe apenas à simples frase. Ela ainda não foi encontrada, mesmo com
todo o exagero aqui permitido. A definição não existe em palavras.
Achtung Baby, yeah! O messianismo era visto. Não importou em nada. Todos eram
discípulos daquelas mãos irlandesas que solicitavam agito, que pediam para
perder o controle, que emocionavam quando apontadas à estrela imaginária a qual
aquelas pessoas foram transportadas. Importadas versões desavisavam os comportados
que encarnavam deslizes nos quadris, que recebiam a música como se fosse um
alvejar de celebração. Aquilo causava euforia e desprendimento. Eles estavam
felizes.