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Uma linda canção arrastada transformou o seu holograma em matéria, em tátil, em massa. Ainda com os olhos fechados eu procurava enxergar com as mãos, somente para descobrir cada intimidade da sua pele. A música chegou ao final. Aquela mesma e manjada nota derradeira fez tanto sentido na profundida castanha dos seus cabelos que, de fato, não vi. Após abertos, percebi como o tempo e o destino revelaram tardiamente a sua presença, "que entrou pelos sete buracos da minha cabeça", como cantou Caetano. Afinal, o baiano é a nossa satisfação sonora dividida e contemplada. Mesmo assim, me pergunto: - Por que só agora? Tínhamos de ter tido outra oportunidade. Se fosse um ano antes, o diferente se faria presente, as angústias seriam açúcar, os dizeres, coloridos, e os beijos, não clandestinos. Mas, como "os infernos são os outros", basta continuar com os olhos fechados.
Meia-luz, meia taça, meio vinho, meio assim. Meio abraço. Metades. Sejamos. O meu grito foi de fúria. Fúria de viver. Fúria de gostar. Fúria de azar. Fúria de natureza. Fúria de final. Fúria de fazer. O seu foi de desespero, de lamento, de tristeza, de pesar. Juntemos, então, cada qual em uma outra canção com apenas três notas dedilhadas que imprimiu o sentir das coisas ali expostas. Uma delicadeza noturna que os amantes da razão entendem com perfeccionismo salutar. Eu queria ter citado outro poema, mas esqueci os versos. De toda a forma, imprimiu na boca a sede metafórica das delícias sobrescritas em meu peito. Se todos os dias fossem assim, eu seria o rei de mim. Portanto, sigamos. O caminho aberto das possíveis adjacências, os textos intermináveis sobre o fel, o mel, o céu. A cicatriz descoberta e marcada em um Dia de Independência da nossa nobre nação. A dobra revelada quando caído o pano apresentou. Um sono em seu ombro, agora, continuou no meu sonho. Prometo sempre estar em sua confusão, mesmo que seja a última, a vice-campeã, a prata, o bronze e o amálgama.
lsH

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.