Hoje lembrei, ao acordar, de escrever uma carta. Coloquei a água para ferver e preparei o meu café. Lembrei das noites mal dormidas, dos dias sofridos. Dos cigarros derrubados no chão, do cinzeiro transbordando. O sol perfurou a janela e o raio entrou sem pedir licença. Não sou observador, confesso, muito menos sentimental, Mas a cena me pareceu um sinal. Lembrei você. Iniciei os agradecimentos, os olás, o tudo bem. A fumaça do café se misturava com a do cigarro. Contei um pouco da rotina que ainda acabará me matando, Dos estranhos que acabo entregando intimidades, Da moça da panificadora, do chuveiro estragado, Ainda tenho que arrumá-lo. Tenho preguiça. E do roteiro que ainda insisto em não terminar. Percebi que faz um ano. Como foi estranho. O seu perfume adocicado já não mais está presente, Seus discos de new wave eu já doei, O anel, penhorei. Não quero apavorar a sua paciência No entanto, ainda recebo as suas revistas femininas. Se possível, cancele a assinatura. Se não me qu...