Eis que o dia baila mais uma dança sangrenta, tingindo o céu com o vermelho de golpes líricos de tinta clássica. Mais um final de fase anuncia a esperança de um amanhecer bêbado e fodido. Olha para o teto que Deus desenhou, deitado em uma grama verde banhada pelo orvalho. Passa os dedos nos lábios somente para sentir novamente o que aconteceu. Seus ouvidos estão entupidos por fones que descarregam outra canção do Cold War Kids. Ele viaja através da música e do degradê que as cores do infinito se permitem formar.
Algumas vozes chapadas são escutadas, mas estão muito longe. Há ruídos na comunicação unilateral. Não se deixa envolver e retorna à viagem mental. Deixa-se em caláfrios quando relembra as horas passadas, as mãos no quadril, o deslizar no rosto, o colo aberto e o beijo certeiro. Abre um sorriso intenso e percebe que as histórias do passado devem ficar lá, afinal, ainda bem que as memórias não são relançadas nas TVs.
Um vento suave atinge o queixo, passa pelo nariz e morre no boné. Não há ressentimentos, até mesmo porque, ele nem sabia ao certo dos sentimentos, só tinha a noção de que eram verdadeiros.
Agora ela pensa no período - mais um - que pede para ser assassinado. Uma mudança já aconteceu. Que venham as outras. De falta que não irá morrer, de ausência que não irá sofrer. De amor que não irá faltar.