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Por uma vida mais ordinária


Na calmaria das coisas um caos manifestado. Difícil relatar os acontecimentos, queria mais relaxar em nosso apartamento e comentar os fatos do dia-a-dia. Colocar Tori Amos na vitrola e divagar o afeto. Mas sempre vem o contrário, as contas a pagar, o carro para lavar, o cachorro para alimentar, a poeira dos móveis para tirar, a louça para guardar, o guarda-roupa para arrumar. Está ficando difícil. Quando foi a última vez em que fomos ao cinema? Aquele do Woody Allen ainda era um lançamento. Quando foi a última vez em que abrimos uma boa garrafa de uísque? Aquela que compramos já está completando 12 anos. Acho que agora é a hora.

Não era isso que eu imaginava. Na adolescência, eu pensava que conforme fossemos crescendo os tempos seriam mais proveitosos. Estão sendo criminosos. Crime por não aproveitarmos o salário para gastar com cerveja, crime não por não podermos gozar a rotina, crime de falta de tempo. Eu queria ser um outro tipo de criminoso, um hiperbólico das vontades prazerosas, da leitura de Bukowski aos solos de Miles Davis, dos goles à beira-mar ao caminhar noturno em Caiobá. Aliás, aquele verão ainda estamos deixando para mais tarde, como aquela canção do Amarante. Hora de mudar. E depois de tudo, descansar em paz, sem aquela culpa de que poderíamos ter visitado a família, ter ligado para os amigos, ter marcado compromisso do ofício. Sem ressentimentos, sem argumentos, sem explicação. Simplesmente fechar os olhos e dormir, de preferência, acompanhados de Manu Chao, Jarvis Cocker e Lauryn Hill, a sua preferida.

Agora estamos aqui, definindo quem vai amanhã ao banco, quem comprará o gás, quem pagará a luz, quem procurará veterinário para o totó, quem mandará instalar a internet, quem levantará cedo para atender o cara que vai arrumar a geladeira e quem buscará a roupa na lavanderia. Que coisa, hein? Quero uma vidinha um pouco mais ordinária... Como aquela canção do Neil Young.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.