Pular para o conteúdo principal

Assassino diário


Deserto-umbigo no fluxo limpo do quarto branco. A janela entre-aberta permite que o ar denso invada o recinto. A tranquilidade se encontra na cama com os olhos fechados e a respiração cansada. Momento único de meditação. A vela compõem o auxílio de projeção de sombras que formam desenhos assustadores e simpáticos. No chão, o cinzeiro cheio até a borda de assassinos diários que não arrancam a vida de uma vez só. São deliciosos, principalmente após as refeições, no entanto, as campanhas de sensibilização dizem que são mortais. A boa alma retorce o sentido e prefere não ligar para a consciência.

23h18. O som do vizinho pede licença e vaza das caixas "Sex On Fire". Kings of Leon sempre permitiu agitos nos neurônios do rapaz, o mesmo que antes relaxava entre os brancos dos travesseiros. Os olhos ouvem, os ouvidos enxergam. Os sentidos se confundem. O pensamento sereno dá lugar a memórias transloucadas de um amor cravado e enterrado tempos depois. Um videoclipe na coluna dorsal se forma, viajando em elementos químicos até o cérebro. O beijo se forma, aparece, ressurge. Os lábios deixam um sorriso escapar. Os poros se abrem. A respiração recupera o movimento. A melodia da canção recobra o sabor da boca, o poder do toque, o calor da epiderme. O cansaço some, a empolgação extrapola dos pés aos fios do cabelo. O gostar explode no nariz, fazendo sentir novamente o perfume terrivelmente doce, e terrivelmente bom. Mas a música acaba. Não fica a melancolia na cabeça. Nem no corpo. Só a lembrança quase esquecida de um período único. Respira, expira, inspira. E acende mais um assassino presente no cotidiano fugaz.

Postagens mais visitadas deste blog

um gole de derrota nesse asco. um casco entre as unhas, colabora. o copo quebrado acumula pó e o nó na garganta é charme. a calma quer explodir em caos para um fundo em furo se enfurecer na poética dissonante de um crescente anoitecer. mencionado antes, agora exposto "o mundo está duas doses abaixo" por mais que às vezes, acima, recria o oposto da colocação. então, não tenha medo hora ou cedo o coração padece e merece um aproveitar que tenha como fim o sorrir. (mas não acontece).

Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.