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Mostrando postagens de junho, 2009

Insônia

Trata-se de uma complicação sem razões para desfechos, de um quebra-cabeça difícil de encontrar as peças. Fico pensando na melhor equação resultante de soluções, mas me atraco na inconstante falta de noção. Procuro a reflexão entre as imagens de ondas quebrando com um sol laranja de uma beleza californiana. Imagino-me longe, em outras costas. Fantasio outros acordes, de repente. Fecho os olhos e choro um outro domingo perdido. Sons de Take the long way home. Tímpanos perfurados. Mas não é motivo de tristeza, afinal, a água vai e vem. O salgado é sábio e entende a hora de partir, apesar da insistente maresia que por vezes penetra a retina desatenta. No entanto, é essa a graça do viver, das mazelas, das dicotomias e dos contentamentos. Uma vez me perguntaram se eu estava feliz. Eu respondi que estava contente. Chamaram-me de bobo, que eu deveria dizer que me encontrava alegre. Sei lá. Indefinições a parte, o fato é o não esquecimento daquele pôr-do-sol do oeste. Eu tinha pensado em uma d...

Uma frase para derrubar as outras

O amor é brega. Uma nojeira capaz de retardar o culto, distorcer a ópera, borrar a arte. É o sentimento mais xaroposo, gosmento e ridículo. Ele deixa a pessoa com sintomas infantilóides, fazendo qualquer um murmurar gracinhas que terminam em “inho”. Fofinho, bonitinho, abracinho, beijinho. Retrocessos diminutivos que deixam qualquer um nominado como imbecil. Ele é brega porque acaba transformando qualquer declaração em petardos românticos. O ser atingido pelo amor é capaz de soltar frases de impacto, como: você é o recheio do meu sonho. Puxa vida, isso é pesaroso. O amor é meloso. Faz com que o humano ouça beleza em canções tão díspares quanto chatas. Uma nota qualquer acaba se tornando um tema de novela da vida real. O amor é de uma breguice que somente o Odair José consegue cantar. Roberto Carlos caminha pelo mesmo trilho, mas não é charmosamente brega como o Odair. Ele é a mais perfeita tradução. Talvez o último romântico dos melodramáticos esquecidos nas prateleiras do saudosismo. ...

Sexta-feira, pop e cola

Hoje eu quero Ver o carnaval passar Em meu site predileto Também pretendo beber Cerveja quente na madrugada. Acender uma bituca e dar Uma baforada de gelo seco em minha sala. Sentar ao relento e sorrir pensamentos distantes. Fazer da dor O meu Sentimento a vapor. Chorar álcool etílico Em um copo de acrílico. Lembrar beijos não dados Em bocas conhecidas E cair de bêbado Em minha própria avenida. Leonardo Handa

iPod

Uma canção de beijos desesperados rola no iPod. Meia luz escura no apartamento. Ela, deitada no sofá, olha a foto mais feliz: lábios em contato acompanhando a canção. A água ameaça pingar pela torneira da cozinha, mas o que desliza é a mão pelo rosto. O cantor da música dá razão aos sentimentos da moça. O tom aumenta e um falsete desesperado rasga o tímpano sofrido. O olho não segura e permite um deslize. A lágrima encontra a almofada, que já está molhada desde o verão passado. A sequência de acordes termina e ela volta ao zero, coloca no repeat e se deixa envolver pela atmosfera subversivamente caótica da canção. Levanta-se como quem quisesse se deitar novamente, lança um olhar de desprezo na foto e grita ao primeiro corte. A canção está tocando pela terceira vez. Os joelhos encontram o chão e uma surdez mórbida invade por alguns segundos. Ela sente deliciosamente o que pensou ser uma lâmina. O objeto fica encaixado enquanto o fluído ameaça escorrer. Desliza. Lisa. Desfaz. Delícia. De...

Sujeito Oculto

Um torto ao leste reclama direção Mas segue afoito pelo lado errado. Não há bússola de consolo Muito menos central de informação, Só o destino para aconselhar A perdição que segue encontrando. A confusão mental atordoa o coração E persegue o cotidiano da caminhada. Percebe que é um sujetio oculto Entregue ao caos que não construiu. Eu tentei avisar dos perigos futuros E você não quis considerar a dor, Levou à boca os sonhos líquidos Acreditando serem a razão. Sabemos que estamos cansados E o prosseguir é uma estrada Repleta de placas que não indicam, Apenas desvirtuam as direções. Está complicado encontrar Um solução para a causa. Então siga torto ao leste Já que não tem outra opção.