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Minha solidão não compartilhada, aliada à condição que agora, acompanhada, dedilha o dedo junto ao violão. Não insisto companhia, minha via hoje é única, sem túnica, sem trilhos, sem descoberta. Coberta a minha vontade eu não reclamo nada, nem um beijo, nem um abraço, nem um calor. A boca está seca, mas de cantar. O lábio seco entorpece em um vinho, daqueles vagabundos, que pintam a pele de tinta e álcool, de satisfação e conclusão: para gostos não refinados, nada vale um rótulo acima de R$ 50,00. 

Eu poderia estar jantando, degustando o oriente, mas a minha vontade permanente era de estar exatamente aqui, sem planos para a quarta, sem oitavas para as notas, sem tons para o acaso, sem 50 tipos para qualquer coisa. A melhor pedida, hoje, nada tem a ver com o reclame. Também não se trata de autoajuda. Acuda, quiça, outro dia. Nessa noite, quero o pingo, a fumaça dançando solitária, uma risada bem elaborada, um programa lazarento e um admirar contra o vento. 

Novamente, ressalto, não é melancolia. O escrito pode parecer triste nesse dia. Mas é o contrário. É meio otário, como o verso que escuto no rádio, sem presságio para o presente, para o ausente, para o passado, para o futuro, para o obtuso. É como comercial que provoca um riso, no entanto, não cria a vontade de consumismo. Algo neutro, como o detergente escorrendo pela pia, como cão sem a sua guia, como doença sem penicilina. 

Hoje, adoro a chuva, cada gotinha que morre em minha janela. Hoje, quero chuva, cada água pequena evaporando sem paralela, sem rodeio, sem devaneio. Hoje, quero duas, seja chuva, seja água, seja gota. Quero bem assim, calma, devagar, como sexo sem pressa, explorado sem a preocupação do gozo, alcançado progressivamente, a cada passo, a cada sussurro, sem murro, sem esporro, algo mais puro. Hoje, quero assim, para amanhã, não saber o que querer.

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um gole de derrota nesse asco. um casco entre as unhas, colabora. o copo quebrado acumula pó e o nó na garganta é charme. a calma quer explodir em caos para um fundo em furo se enfurecer na poética dissonante de um crescente anoitecer. mencionado antes, agora exposto "o mundo está duas doses abaixo" por mais que às vezes, acima, recria o oposto da colocação. então, não tenha medo hora ou cedo o coração padece e merece um aproveitar que tenha como fim o sorrir. (mas não acontece).

Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.