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Madrugada. Sei lá que horas. Estou sem relógio, sem celular e sem carteira. Meus documentos, não tenho ideia. Eu só lembro de nós dois. E, mesmo assim, nada sei. Após a briga, acho que fui afogar a dor de cotovelo. 
No posto de combustíveis, nessa beira de estrada, toca R.E.M. Uma rádio FM qualquer sintonizada. Um caminhoneiro retorce o rosto. Não entendo se é por causa da música ou da minha presença.
No bolso, uma carteira de Marlboro pela metade. Nas mãos, um isqueiro Zippo falsificado. No céu, tantos pontinhos piscando que imagino: se não tiver vida em outra constelação tudo isso é um tremendo desperdício de espaço. Será que os ETs louvam algum deus? Pensamento sem noção para o momento. 
Michael Stipe não se cansa de dizer que "sometimes everything is wrong" e o caminhoneiro continua com a mesma cara, um misto de que acabou de peidar com contemplação de assassinato, seja lá o que isso signifique. Nem lembro o que estou fazendo aqui. Apenas sei que é madrugada. 
Procuro alguma pista. Vou até o banheiro, ligo a torneira e molho meu rosto. No relance que tenho com o espelho, visualizo uma marca de batom no pescoço. Vermelho. O lábio está um pouco rachado, como se eu tivesse beijado por longos minutos e, após, pego uma friagem sulista daquelas que dá inveja aos catarinenses. Acendo um cigarro. 
O caminhoneiro invade o recinto. Pergunta: - e então, era gostosa? - Quem? - Indago. - Aquela linda ruivinha que te largou aqui. - Maldita puta!
Aí eu lembrei. Tinha acabado de ser roubado. 


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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Alguém me disse que uma das melhores coisas para se esquecer um amor é escrevendo sobre ele, analisando os fatos. Não sei dizer se isso é verdade, mas sei que dói. Tenho quase 30 anos e já tive desilusões amorosas e confesso: as outras foram mais fáceis. Certa vez um amigo comentou que só existe um grande amor na vida. E eu passei a acreditar nisso. Muitos profissionais dessa área, afinal, praticar o amor é viver em sofrimento e dedicação trabalhista, procuram no bar mais próximo o método para esquecer o momento do rompimento. Eu não tive essa oportunidade, pois o bar mais próximo era muito, mas muito longe. O detalhe é que o rompimento aconteceu na casa da pessoa que até então se declarava, que dizia: depois de tudo o que passamos, terminarmos seria um erro. Puta merda! Tem ideia de como me sinto quando lembro dessa frase? Quando isso acontece, logo me vem à cabeça os bens materiais. Por que gastei? Para que comprar um perfume tão caro? Para reconquistar? Sim, e olha no que deu. E a c...