- Com nome de artista de cinema. Disse ela. - Foi assim que minha mãe me batizou. E eu nunca soube seu verdadeiro nome. Nunca. Não naqueles momentos. Conheci outros prazeres, como o toque da sua pele, o cheiro de cigarro do seu cabelo e o molhado de seus beijos. Não tive outras intimidades. Seus olhos castanhos tinham uma tristeza muito bem disfarçada. Eu, que me achava o especialista em decifrar mistérios. Sentia-me o cara mais perdido quando tentava tirar algo daquele olhar. Era impenetrável, ao contrário da parte mais baixa. Bem mais baixa. Um pouco mais. Isso aí. Desce, vai. Pode ir mais um pouco. Eu deixo. A imaginação é livre quando se trata de cada um, de cada qual, de cada mente. É bom, né?
- Quando eu sair dessa vidinha lazarenta, quero me mudar para a Batel, ter diarista, mandá-la tirar o pó e lavar o banheiro do meu apartamento como se fosse o reino mais divino. Esquisito, confesso, ouvir isso dela, uma mulher de atitudes simples, às vezes vulgares. Tentei comparar a frase com alguma passagem da sua infância, vivida em Pato Branco, muitas vezes comentada por ela nas altas madrugadas deliciadas em meu apartamento, localizado na Mercês, pertinho da Manoel Ribas. Em nenhuma das tentativas consegui chegar a uma conclusão.
Semana passada, lendo a Tribuna, vejo na capa, não como chamada principal, mas com certo destaque: Prostituta é encontrada morta com uma maçã no rego. Ao ver a matéria, a foto dela, não naquela situação degradante da manchete, apenas seu rostinho moreno, de uma beleza interiorana. O jornalista, pelo menos, foi mais esperto do que eu. Briggitti Bardô, assim mesmo, era o nome da guria.