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Mostrando postagens de julho, 2014

Os Ditames Errôneos - Volume

O alcoolismo é uma fuga desprezível dos desesperados. A entrega às gotas da vã felicidade é conturbada e se mostra uma cilada aos anos, à saúde, à vida. Mas não se parece isso quando um estágio de afago se esvai pelo ralo das possibilidades. Alguns espertos até conseguem destilar poesias: inspirações que transpiram em corpos-outros. O bufão grandiloquente do Bukowski não tinha medo disso. Quem tinha medo dele era a própria bebida. No entanto, há aquela entrega fraca, que se converte em tapas, em brigas, em assassinatos e demais loucuras do cotidiano urbano e rural. É triste e vende jornais, rende reportagens e lendas populares; rasga a sensibilidade e faz chorar a comunidade.  Grande alcoólatra de tempos latidos com gás e fúria, o hoje Homem de Ferro tinha um demônio em uma garrafa. Sua indicação ao Oscar, interpretando Chaplin, só fez piorar a guinada ao fundo de um litro de vodca. Saiu derrotado? Nenhum um pouco. Utilizou os momentos a seu favor, mesmo que aos tropeços. Como...
Sim, eu tive sonhos. Queria sair aí pelo mundo, escrevendo. Mas, antes, gostaria de ter trabalhado com jornalismo cultural. Queria ter resenhado Ventura para a Showbizz. A revista nem estava mais em circulação quando o Los Hermanos lançou o álbum. Que pena. Queria ter dado minha opinião sobre Abraços Partidos na SET. Sequer deu tempo de fazer isso. Faltou talento também. Queria ter terminado de escrever meu livro. Mas também faltou talento. Queria ter composto mais músicas e ter vivido dela por um tempo, nem que fosse para passar fome no centro de São Paulo ou em Guadalajara. Queria ter viajado o litoral dos três Estados do Sul. Fiquei apenas no queria. Hoje, exatamente agora, no meu trabalho, estou pensando a respeito, tudo por causa de um e-mail da chefe. Nele, ela me perguntava quais eram minhas principais dificuldades, qualidades e com que eu mais me identificava no expediente. Respondi numa tremenda autoanálise que me proporcionou uma crise gigante. O que estou fazendo aqui? Sim,...

Calendário

Gira, gira, gira linda. Rodopia ao som do silêncio e esvazia a mente tentando um suplício. O travar dos dentes acontece ao mesmo tempo que o travar do tropeço. E o seu girar lindo fica estático no tempo. No espaço. No critério. Na ocasião. Na vida. O calor esfria e ela pensa no vazio do corredor. Tira um samba dolorido e acompanha com vocalizes os deslizes do amor narrados pelo cantor. Observa a foto antiga em sua estante e, por um instante, se sente uma vitoriosa.  Vai até o banheiro e em frente ao espelho borra o batom em seu lábio, joga uma maquiagem mal desenhada e sorri. Fecha os olhos e fica a se imaginar em um baile colegial, quando era a preferida para se dançar. Caminha até o calendário da cozinha e risca o dia 21 de outubro. Mais um aniversário ela comprova, sozinha.