O alcoolismo é uma fuga desprezível dos desesperados. A entrega às gotas da vã felicidade é conturbada e se mostra uma cilada aos anos, à saúde, à vida. Mas não se parece isso quando um estágio de afago se esvai pelo ralo das possibilidades. Alguns espertos até conseguem destilar poesias: inspirações que transpiram em corpos-outros. O bufão grandiloquente do Bukowski não tinha medo disso. Quem tinha medo dele era a própria bebida.
No entanto, há aquela entrega fraca, que se converte em tapas, em brigas, em assassinatos e demais loucuras do cotidiano urbano e rural. É triste e vende jornais, rende reportagens e lendas populares; rasga a sensibilidade e faz chorar a comunidade.
Grande alcoólatra de tempos latidos com gás e fúria, o hoje Homem de Ferro tinha um demônio em uma garrafa. Sua indicação ao Oscar, interpretando Chaplin, só fez piorar a guinada ao fundo de um litro de vodca. Saiu derrotado? Nenhum um pouco. Utilizou os momentos a seu favor, mesmo que aos tropeços. Como Mickey Rourke, se tornou um cover de si mesmo em papéis repletos de papelões que, num futuro, lhe trouxeram a sapiência de parar de utilizá-la com caráter malévolo e transfigurou-a em artifícios de ironia e beleza.
E, portanto, no mergulho do exagero, como tudo que é inconsequente, nada vale, basta o consumir sem atitudes hiperbólicas para amenizar cada finisse da vida. Afinal, até a religião descomedida traz o seu mal escondido.