Ando meio vazio. Sinto quase um desespero em determinados momentos,
com a vontade de engolir uma caneta tinteiro e senti-la explodir em minha
garganta. Uma falta de conteúdo me assombra nesse momento, como se o cérebro
implorasse por um frescor intelectual. Algo que me tirasse do lugar comum, da
maldita zona de conforto a qual me encontro. Mas a solução é única. E ela não
virá galopando em um cavalo branco. É necessária uma força maior.
Quando adolescente, lembro-me de uma cabeça mergulhada em leituras e
poesias (mórbidas, confesso) que arregaçavam certas peripécias experimentais.
Eu vivia envolto numa bolha extraordinária de paixão pelo desconhecido, sempre
a procura de novos sabores, fossem quaisquer um, de universos paralelos,
laterais, prosaicos, arcaicos, hiperbólicos e, até então, idiossincráticos. Era
lindo. Quando uma nova canção era descoberta pelos sedentos tímpanos, o corpo
todo entrava em um transe estapafúrdio. O primeiro contato com Sonic Youth foi
devastador. As consequências daquele encontro eu gostaria que permanecessem nos
dias atuais. Porém, esse meu abraço apertado na falta de conteúdo começa a
incomodar seriamente.
Dias atrás, com a informação de que meus pais pretendem se mudar de
cidade, viajei em argumentos solitários a respeito da troca de município. Quase
tudo na vida começa com uma pergunta. A minha foi: e se eu também me mudasse?
Não pensei em nenhum lugar específico, não consegui formar nenhuma imagem.
Minto. Formei sim. Era litorânea, algo meio bucólica, solitária e silenciosa.
Acabei esquecendo isso na mesma noite. Por quê? Por causa da circunstância que
chamamos de vida. E, sabiamente, Alvin L vomitou: a vida pede provas e quem ama
dá.
Isso me levou a pensar, algo que não tenho feito com sagacidade, muito
menos com a paciência necessária. Aliás, a falta de concentração é minha
companheira não predileta. No entanto, ela é tão constante que acabei me
acostumando. Dormimos juntos, tomamos banho juntos, dançamos juntos, almoçamos
juntos, bebemos juntos, fumamos juntos e juntos, juntinhos (que bosta),
estamos.