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Mostrando postagens de junho, 2016

Delirante

Meu último beijo não dado Meu câncer aqui guardado. Meu abraço corrompido Meu soluço empobrecido. Meus olhos repletos de água Minhas narinas com sangue Minha pele vazando suor Meu corpo pedindo clamor. Meu penúltimo desejo negado Minha opinião deixada de lado Minha despedida angustiante Seu canalha delirante.

Cicatrizes

Quando as cicatrizes coçam é chuva? Só se for aquela que remete às lembranças, somente para recordá-lo de como conquistou cada uma. Aliado ao álcool, tenho a impressão que elas ficam vivas, se mexendo na pele, atiçando o cérebro.  Já são algumas. Não importa quantas. Cada qual com um significado nos dias atuais. Nesta época do ano, elas são revividas. Na cabeça, eu diria que são os cornos. Muitos. Sem mencionar os que virão. Sou quase como peste. Um dia sempre sou  traído. Nas costas, resquícios de noites. Muitas. Pior que lembro de todas. Unhas, dentes e até canivete. Tem também um sinal feito por uma tesoura. Foi bem violento. Na mão, um acidente. Eu diria de trabalho. Não vem ao caso. Nos joelhos, o radicalismo, a vontade momentânea de praticar esportes radicais. Sempre me fodo. Nos pés, as voltinhas pelas pedras das praias. Essas eu tenho com orgulho. Volta e meia coçam para valer, principalmente quando imagino a areia, o sol, o vento, as pessoas lindas e bronzeadas, o sal...
Eu não queria mais voltar. Por alguma razão, cá estou. Confesso que não me sinto muito confortável. Até atrapalha meu pensar. Não consigo deixar claro. Muito menos, escuro. Não queria estar de novo recolhendo cada fragmento que me compõe. Não queria estar novamente escrevendo o "não". Não me via começando outra vez as frases com essa palavra tão miúda de três letrinhas. Não passou. Sei lá se vai passar. Mas, se retornei, foi por alguma questão. E ela é você. Talvez eu esteja  apenas encantado, como me disseram, apesar de que me sinto muito apaixonado. Nem preciso comentar isso contigo. Está longe. Longe fisicamente. Longe emocionalmente. Em outra direção que, lógico, não é a minha. Tenho em mente que para ti foi um caso, outra conquista para ficar registrada na pele, como pessoas que colecionam amores. No entanto, para mim, uma sensação de algo não terminado. Enfim, nem tudo na vida precisa ter um final. Só não queria ter retornado para o início. Do sofrer, calado, no caso.
Eu sempre tive um problema ou, talvez, uma solução: o sofrimento por antecipação. Repentinamente, quando a mente está de bobeira, imagino como será quando meus pais morrerem, como seguirei meu caminho, como será minha vida sem eles, como será a minha solidão, a minha tristeza. Um dia a morte virá e tudo aquilo que sabemos, mas não vivemos ainda.  Este é apenas um exemplo bobo que, psicologicamente, não é nada aconselhável. Eu utilizo como ferramenta de previsão, de como dever ei agir no futuro. Serve para alguma coisa? Não tenho a mínima ideia. O mais recente arquétipo, no momento, mais próximo, bem mais próximo, pois se trata de dias, é a despedida de amigos. Há um mês, meu amor pediu o desquite, agora, fico sabendo que uma grande amiga vai partir, navegar novas ruas, respirar novos amores, trabalhar novos retratos, curtir outros compartilhamentos, aproveitar novas aventuras. E, novamente, vou sofrendo por antecipação. Estou extremamente feliz que tenha dado tudo certo para ela. P...
Para cumprimentar, não precisa fazer a chuca, não precisa lavar a bunda, não precisa ser santo. Para cumprimentar, não precisa ser amado, não precisa ser corno, não precisa ser arrogante. Para cumprimentar, não precisa vestir roupa de marca, não precisa estar sem, não precisa estar com. Para cumprimentar, não precisa ser rico, não precisa ser pobre, não precisa ser de classe alguma. Para cumprimentar, não precisa estar manso, não precisa estar bravo, não precisa estar content e. Para cumprimentar, não precisa se machucar, não precisa se alegrar, não precisa se entregar. Para cumprimentar não precisa ter medo, não precisa ignorar, não precisa estar bêbado. Para cumprimentar, não precisa estar de chinelo, não precisa estar de All Star, não precisa estar de Prada. Para cumprimentar, não precisa ser elegante, não precisa se mostrar o prepotente, não precisa ser o melhor. Para cumprimentar, não precisa estar em dia com o imposto de renda, não precisa ter viajado para a Europa, não precisa f...

A situação

Ela queria o lado certo, mas seguiu o errado.   Aos desavisados, gritou: agora me vou. Os truques do destino apontaram o fim Mas ridiculamente, ela disse: não. Princesa do seu hoje Apontou suas velas E navegou para longe. Não teve o que quis, Virou sua melhor cover Cantando suas derrotas Que aos poucos Se tornaram sorrisos. Quando todos diziam norte Ela abocanhou o sul E o seu erro se tornou acerto. Foram tempos de escárnio E mentiras reveladas Que tiveram seu tempo de maturação E que hoje são verdades.

Vazio

Ando vazio. E o que é vazio não para em pé. Mas, como continuo? Penso a respeito e não encontro respostas. Cada vez mais tenho incertezas. Não me esforço, confesso, para acertar o alvo. Apenas repenso os meus erros. Foram vários. De alguns, aprendi algo. De outros, aprendi a ser vago. Mesmo assim, continuo. O mais grave fará um ano.  Quando o amor estava presente, apesar dos problemas de um relacionamento amoroso, as coisas estavam nos trilhos. Fui fraco e me deixei cair na tentação facebookiana. Nosso namoro não estava perfeito, contudo, continuava lindo aos meus olhos. Todo o apoio necessário que eu podia oferecer era fortalecido. Tinha uma questão sexual grave, aos olhos do meu parceiro, que o incomodava muito. E a mim também. Teve tentativas para mudar essa situação. Mas o que era para ser prazer, para mim, era apenas dor. E, apesar da compreensão, isso foi o catalisador  do fim.  Enfim, voltando. Cai no conto mais falcatrua, no clichê mais básico, na falácia d...

Yo quiero

Eu quero aquele verso torto, todo fodido, rasgado e arregaçado. Aquele que vibra a vida com uma ardência nada categórica, muito alegórica, hiperbólica e cheia de cólera. Algo que fale mal, deliciosamente. Um jorro na cara de lambuzar os olhos lacrimejados. Quero uma canção arrancada do coração, sangrenta, como uma balada que estupra o peito. Venha-me, solte-me e cuspa-me aquela frase gritada, que nem uma puta num coito interrompido. Quero o tremular das pernas, o balançar das cadeiras, a quebra da lombar no berro em si bemol. Desejo a gostosura das falácias inconsequentes, da porra quente de uma estúpida masturbação. Também quero o ódio para alimentar meu corpo em fúria, só para que a vazão da marginalidade não me faça esquecer o quanto é bom se sentir assim: em pulso, em nervosismo, em pele, em carne e em cerebelo. Quero extirpar cada sílaba com gostosura de framboesa, como uma criança retardada que grita de birra em um supermercado, constrangendo seus pais e seus irmãos. Eu quero uma...
Doce necessidade de vazar. Vejo com as mãos, mas sou cego dos dedos. Procuro com a língua, mesmo ela sendo surda. Ouço, então, pelos olhos que um pouco escutam. Confundo o céu da boca com o fim do mundo que muito próximo saiu em câncer do meu pulmão. Por isso, agora, eu quero vazar antes que eu volte a confundir.