Entenda beleza, eu ainda prefiro o conteúdo. Sua graça me distrai, mas procuro manter a calma. Confesso que já me perdi em seu torso nu. Na sua pele morena. Nos seus cabelos escuros e nos seus olhos castanhos. São tão invencíveis, pedaços sublimes de pecado exacerbado. Em você, eu me perco, reviro o acaso, me torno poeta. Em você, me transformo em plebeu, obedeço os critérios, pratico adultério e procuro um consubstancial. Porém, entenda, ainda primo pelo teor.
Já solicitei tantas vezes, quase nunca fui ouvido. Não adianta, você sempre consegue me seduzir. Eu sou fraco, eu sou carne, eu sou ser, abstrato, confuso, continuado. Quando adentro, fico idiota, caricato: estereótipo de capa de revista. Então, como não aguento, eu me entrego. Mas ainda falta o conteúdo. Portanto, entenda beleza, você está me fazendo perder os valores. Fazia tempo que eu não me entregava em uma batalha. Você continua ganhando. Todas. Estou jogando meus princípios no vaso sanitário, nos tocos de cigarros, nas taças de vinho, no vidro empoeirado, no branco que escurece, na vontade que prevalece. Eu fico tonto. Eu fico torto. Eu fico bobo.
Não vejo razão, Nick Cave não me dá opções. E você nem conhece. Para quê? Não necessita, basta uma Vogue. E, aos poucos, vou me entregando, abrindo as pernas, recebendo o putrefato pela boca, dentes e garganta. Vou engolindo o seu mundo, as suas frivolidades. Quer saber? Nem queire. Já perdi. No entanto, por favor, ao menos procure algo do Cat Stevens, não precisa descobrir a sua biografia, apenas ouça Wild World. Não estou pedindo muito, não estou pedindo que conheça a poesia do Buarque, somente demonstre um pouco de interesse. É muito egoísmo, eu sei. Isso não combina com o seu Dolce & Gabbana. Disparidade. Tudo bem, apenas entenda, beleza, você me corrompe o conteúdo.