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Mostrando postagens de setembro, 2019

Momento

No meu momento mais bonito Eu conto os seus cílios enquanto sonha A cada um, eu falo silenciosamente: eu te amo. Na minha condição mais delicada Eu deixo o meu corpo transparente para você E aguardo seu sinal para sinceramente te encaixar. Na minha vida mais miserável Só aguardo um aceno seu para me fazer sorrir E seguir tranquilamente pelo lado da calçada em que está você.
Não há busca Em troca de algo Nem calor, nem amor. É de sorriso que se abre Um agradecimento. De fato lógico Um rompimento Por hora chegou. O cataclisma de sentimento agora vazou. Não foi culpa dos dois: Um outro sempre surge (depois).
Tenha-me à pele SEM PUDOR E não traga dor QUANDO UM BEIJO me causar a vontade de voltar. FAÇA-ME do avesso, pois o seu endereço É meu lábio superior QUE ENCONTRA a estrada Do seu inferior. Destaca-me do seu ser Revertendo o fluxo Do contrário saber Em momentos arbitrários De silêncio e fazer. Abra-me em um abraço Que me fecha em você. E em um momento eu sinto o seu compasso Que acelera a cada passo Que te faço. Feche-me em um beijo Que me abre em você.
minha febre adorada meu porre de vodca minha doce angústia meu dia nascendo minha alma desencarnada meu filho não ejaculado minha casa mobiliada meu povo faminto minha droga injetada meu amigo confidente minha letra inconsistente meu verso corrompido minha poesia dilacerada meu motel preferido minha amante titular meu eu desperdiçado e minha vida interrompida. 

AbsTRATO

Triste insiste Em não derramar Do copo a precisa Poesia que Se desmancha. Alcança antes Uma letra feia Com texto lindo Que remete Ao passado romântico. A borda cheia De sílabas agora Vaza palavras. Desperta a esperta Esperança de Se embriagar Em poemas abstratos.

Escondidas Verdades

Truques ambíguos De ordinária beleza revelada No coração mais perfeito De uma alma torturada. Falsa condição projetada Nos dizeres mais concretos Nos sorrisos mais discretos Mas foram nos olhos Que explícitos revelaram A condição incorreta. Nuvem de pólvora Em um quarto amarelo Repleto de angústia. Um dia, quem sabe, Encontrem as verdades.
Tantos janeiros Presos nesse corpo Que muito torto Pede água. A vida deu razão Mas perdeu Antes da comunhão: Um outro ato Que se foi de fato. Agora fica o dia da derrota Da boca aberta por palavras, Sangue e traição. Ficam as noites de estrelas Não cadentes pousando Na cama suja de outros amores. Mas não foi culpa do ódio A culpa foi da paixão. lsH
Eu lembro perfeitamente daquele dia. Sem precisar falar, você já me conhecia. Se ainda não levo a sério as minhas palavras, Talvez um dia elas farão sentido. E se a primavera não for boa, Terá o verão, todavia. E se não estamos juntos, É fruto da nossa cria. lsH
Às vezes precisamos de doses de loucura, de noites insones, de silêncio em meio a tanta porcaria que nos invade os olhos e ouvidos. É preciso sentir essa maluquice que bebemos e arrotamos em vida, porque nada levamos a não ser cada impressão digital na pele, cada história compartilhada, cada beijo alucinadamente dado. É necessário saber se ouvir, mesmo com tanto remédio controlado na mente. É obrigatório saber amar desenfreadamente, sem dosar as consequências, mergulhando de  piruetas em pedras que nem sabemos se de fato estão fundas. É preciso sentimento real e muita coragem para estufar o peito e dizer tranquilamente: eu te amo. Às vezes não é preciso nem dizer com palavras, apenas transmitir em gestos simples, leves, carinhosos, generosos e deliciosos. Não é afoito sentir vergonha. É lindo quando se pode encontrar alguém e olhar nos olhos e repassar docemente o sentimento através da pupila, da íris, das pálpebras, do piscar, do brilhar. E, para tanto, é sim necessário uma boa do...
Meu escárnio escarrado Na carne cortada Que jorra sangue De álcool acumulado. O porco ali jogado É pútrido e carente De uma mente alucinada De uma época passada. Agora o bicho é outro E o processo necessário Pois eu quero novo gozo Sem memória maltrata.

_abuso_

os pés descalços no vidro ouvido no fundo infinito. calor de mão no fogão dedo dentro do umbigo. gemido de criança sem crença e nos olhos o choro sem bença. lsH

Millôr Fernardes, colabore

Deixe-o expressar o ódio Mesmo que em entrelinhas Nessas linhas vorazes Que faz ferver os olhares. Deixe que uns tiros Tirem a vida alheia De um cidadão de bem Que passeava no sábado. Millôr Fernandes, eles tinham razão O que fazem de melhor é por opção. Deixe que a boa pessoa Prossiga a sua ira Enquanto isso mais uma família Vai velando alguém para o além. Deixe que a vida Aponte o que perderemos Pois daqui para o futuro Será lembrado o que sofremos. Millôr Fernandes, você sempre avisou a prole "Certas coisas só são amargas se a gente as engole". lsh
A alma está meio grunge. Sei lá se acordou assim. Não lembro. O dia anterior foi de destruição, quando decretei o meu corpo em estado de calamidade pública. Agora, neste momento, se encontra fumando um cigarro, dedilhando uma guitarra desafinada e grunhidos milimetricamente desajeitados. O dia clareia. Um pássaro pousa na fiação elétrica enquanto o sol parece dizer, solitariamente: mais um dia vagabundo está surgindo. Aproveito o embalo e pego minha camisa xadrez de flanela que estava no criado mudo. Ela fede a maconha, incenso de Flor de Lótus e falsificação de Hugo Boss. Como não lembro se dormi, até que estou contente. Deixo de lado a guitarra e sigo até a cozinha preparar um café. Acendo o fogão com um Zippo que tem um adesivo do Pato Donald. Estranhamente, parece que ele está sorrindo para mim enquanto derramo pó de café no azulejo cinza. A água já fervendo e ouço: Bom dia! Caralho, tinha mais alguém neste apartamento? Eu trouxe alguém? Dormi com quem? Por que não lembro? Não...

Black Dog

Eu também alimento um, Admito. Mas eu preciso de dias assim Para, enfim, Lembrar que sobrevivo. Eu queria, na realidade, um sobreaviso De que a vida É muito mais do que isso. Eu tento, eu aguento E de novo alimento. Eu corro da sua mordida Mesmo em certos dias Ser abocanhado. Eu me perco na corrida E me abraço em manias Apesar de errado. Alguns meses se parecessem Com o fim do mundo E eu recordo dos sorrisos que me acompanham. Deixo seu caráter passar fome E conforme vai passando Eu traço outro presente Independente do passado. Um dia, eu sei, apesar de difícil Seu olhar de esfomeado Será acalanto sem quebranto Mas até lá, se eu me entregar Não quero ser eu Que continuará te alimentar. lsH