Um copo de conhaque acompanhado de uma tosse chata. A voz rouca por causa dos muitos cigarros e do exagero da noite passada. A meia-luz serve de distração para o inseto que nem percebe a sua real insignificância. A janela um pouco aberta. Apesar do frio, muito odor no quarto de um prédio de classe-média. A fumaça vai bailando encontrando o ar da rua que insiste em ser a veia dos poluentes mecânicos.
Acho que estou com um pouco de febre, sei lá. O bicho na lâmpada está começando a me incomodar. Logo esqueço. Leonard Cohen amortece os meus tímpanos e eu, em transe, me transporto para um campo de aveia. Fecho os olhos. Estou correndo sem direção alguma, só sentindo o vento morno adentrando os meus poros faciais. Sigo como um alucinado acreditando ser o humano mais feliz do mundo somente por causa do sol em meus lábios. O azul do céu é de um absurdo tão belo que praticamente esqueço que existem outras cores. O bardo canadense continua embalando, satisfazendo a minha sensação única de liberdade total. Trilha sonora perfeita para o meu exercício de relaxamento mental. Não sei mais onde estou. Não estou em São Paulo, não estou em um apartamento, não sinto cheiro de asfalto, não sinto o meu cigarro. Mas sinto o cheiro de mato, o calor na minha pele, a brisa em meus braços. Eu sinto um paraíso ao meu redor, o som de um riacho e de pássaros. Abro a boca para tentar engolir o ar e... Cof! Cof! Cof! Mas que inseto filha da puta!