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Uma frase para derrubar as outras

O amor é brega. Uma nojeira capaz de retardar o culto, distorcer a ópera, borrar a arte. É o sentimento mais xaroposo, gosmento e ridículo. Ele deixa a pessoa com sintomas infantilóides, fazendo qualquer um murmurar gracinhas que terminam em “inho”. Fofinho, bonitinho, abracinho, beijinho. Retrocessos diminutivos que deixam qualquer um nominado como imbecil. Ele é brega porque acaba transformando qualquer declaração em petardos românticos. O ser atingido pelo amor é capaz de soltar frases de impacto, como: você é o recheio do meu sonho. Pesaroso.
O amor é meloso. Faz com que o humano ouça beleza em canções tão díspares quanto chatas. Uma nota qualquer acaba se tornando tema de novela da vida real. Engraçado como as pessoas se identificam com os casais dos folhetins. Os telespectadores se emocionam até com o Big Brother! Um beijo em horário nobre tem mais vazão em quem possui um coração para amar. Não está vendo? O amor é de uma breguice que somente o Odair José consegue cantar. Roberto Carlos caminha pelo mesmo trilho, mas não é charmosamente brega como o Odair José. Ele é a mais perfeita tradução. Talvez o último romântico dos melodramáticos esquecidos nas prateleiras do saudosismo. Imbatível. Inquestionável. Capaz de tirar meretrizes de prostíbulos e fazê-las verdadeiras amantes sem medo. As suas músicas são frêmitos. Mulheres expostas que ouvem não tomam mais a pílula. Sensacional. Só mesmo o amor para parir um compositor jucundo.
O amor é uma jactância. Deixa a verruga peluda de um rosto qualquer em imperfeição bela, o detalhe completo para o desenho da cara. Torna a saliência lateral do pé na joanete mais linda que alguém já teve. O amor é de uma bobeira incrível. Transforma metaleiro em poeta. Poeta em best-seller. Best-seller em filme. Filme em sucesso. Sucesso em dinheiro. O amor é ópio. Alimento insalubre.
Imagine se o amor pudesse ser comprado em gôndolas de supermercados. Se pudesse ser levado em uma permuta ou comprado em uma liqüidação, à prazo, com 70% de desconto. Pense no amor servido em restaurantes self-service. Quantos gordos. Quantos calóricos. Quantos gulosos. Tudo o que é demais faz mal.Mas, basta uma frase soletrada com talento para derrubar todas as outras: eu te amo. Pronto, o mundo desaba. Os lábios se encostam. Os enamorados desafiam as leis da física e fazem dois corpos ocuparem o mesmo espaço. Fazem rimas com estrelas, mar, céu e anexam em bilhetes acompanhados de flores. O amor, realmente, é um escárnio. Terrivelmente bom.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.