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P.A.Z


Eu queria sentir uma paz sincera. Uma daquelas que deixasse a pele mais bonita, que deixasse o olhar mais brilhante, que é percebida pela pessoa menos sensível. Eu queria aquela paz que deixasse a caligrafia mais bonita. Aquela que deixasse o coração mais aflito. Que fizesse eu parar de fumar.

Eu queria uma paz que me fizesse pensar sobre as possibilidades da vida. Eu queria uma paz que fechasse a minha ferida, mas que não fosse passageira. Eu queria uma paz que me trouxesse amor, loucura, inteligência. Uma paz sem preconceito, com corpo, olhos castanhos, cabelos escuros e virgens. Eu queria uma paz que eu pudesse sentir naturalmente. Eu queria a paz dos anti-depressivos. A paz dos animais irracionais. A concepção de paz dos marginais, dos elefantes e das civilizações antigas. A paz do John Lennon.

Eu queria a paz dividida em duas partes iguais. A paz da Palestina e a paz de Israel. A paz da bala e do corpo alvejado. Eu queria a paz dos mortos e dos condenados à vida. Eu queria uma paz traduzida em prosa. Eu queria a paz do Bono Vox. A paz ingênua de uma criança. Eu queria a paz de um país que manda os seus filhos à morte em uma guerra oriental.

Eu queria a paz de um cirurgião plástico, de uma pessoa com o rosto deformado, de um nenê recém-nascido. Eu queria a paz da viúva negra que depois da cópula, mata o seu macho. Eu queria a paz de um motorista que acabara de atropelar um cachorro na rodovia. A paz dos evangélicos no momento da oferta. O momento sem culpa. A paz dos invertebrados. A paz dos ecologistas. A paz dos budistas. Eu queria a paz das anorexas. A paz das vadias, das dançarinas, das ninfetas. Eu queria a paz dos aidéticos.

Eu só queria uma paz sincera, com armas e com guerras que somente o coração pudesse escolher. Eu quero a paz reproduzida em um papel, em prosa e rimando como literatura de cordel.


Eu quero aquela paz


Leonardo Handa

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.