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Separação


Na fraqueza o ser agoniza um último beijo. Fica ali jogado no chão molhado, esperando a ajuda da outra que apenas se faz, mas difícil não é. Ela gosta que os outros supliquem pelos seus lábios, doces, carnudos, alinhados e perfeitos. Ele rasteja como se fosse um soldado que acabara de perder a perna, solicitando ajuda, gritando de dor e chorando piedade. No olho da pessoa que continua em pé, seca, sem sorriso, sem dó, nada aparece tremular a sua sensibilidade. Nada a faz ter clemência. Ele cita versos de um livro que leu somente para agradá-la, mas o olhar continua impiedoso. Tenta outro Garcia Marquez. Em vão. A sensação que fica é de um buraco negro separando-o dela, tragando os derradeiros suspiros, soluços e poemas. A visão continua fixa na sombrancelha que demonstra através de seus sobes e desces descontrolados a frenética falta de carinho que surgiu ali, naquele beco com os paralélepipedos úmidos. E ele continua rastejando.

Um silêncio de três minutos é interrompido. Ela solta de suas cordas vocais uma frase que dilacera os tímpanos do pobre rapaz. Imediatamente as lágrimas vazam. Pior que ver um homem se humilhar, é vê-lo chorar, pensava ela. Ele levanta e tenta abraçá-la. Ela o impede. Ele insiste. Ela o chuta no lugar estratégico que causa uma dor oca acima do ventre do coitado. Ele murmura alguma coisa que ela não entende, pois a sua voz saiu tão fina quanto a do Michael Jackson. Falando nisso, o auto-intitulado rei do pop deve usar algum tipo de cueca que aperta permanentemente o seu saco, devido a sua voz quase sempre em falsete.

Ela continua a encará-lo com aqueles olhos perversos, de ódio, de satisfação, de medo, de angustia. Ele continua a olha-la com aqueles olhos de medo, de perdão, de amor, de admiração, de temor e agora, de prosseguimento de uma vida. Mas ela não quer, não deseja, desdenha, não suporta. Nem imagina a vida. As conversas entre os dois deixaram claro que ele a traiu. Puta que pariu a fraqueza de um homem perante a uma mulher que conversa mordendo os lábios e tomando martini. Sobretudo quando a sua saia deixa à mostra uma definida coxa bronzeada. Entretanto, isso não são desculpas nem argumentos a o quê ele fez. Traição é algo complicado de ser perdoar. Ainda mais agora, naquela situação, naquele beco, naquele molhado, naquele vão, naquela recém separação. Foi ali que ela cortou o seu próprio coração, dizendo a ele que estava grávida em sua primeira separação.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.