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Mostrando postagens de agosto, 2008

A Culpa

Tantos janeiros Presos nesse corpo Que muito torto Pede água. A vida deu razão Mas perdeu Antes da comunhão Um outro ato Que se foi no fato. Agora fica o dia da derrota Da boca aberta por palavras, Sangue traição. Ficam as noites de estrelas Não cadentes pousando Na cama suja de outros amores. Mas não foi culpa do ódio A culpa foi da paixão.
Bate uma balada certeira no aberto e inocente coração. A nota sustenida furou a artéria, entrou na circulação e maltratou o cérebro. A confusão presente se instalou no lado esquerdo. Os pólos da massa cinzenta tentaram um diálogo, mas foi um monólogo que se apresentou aos olhos. Eles aplaudiram com as pálpebras, deixando a lágrima traçar um caminho obtuso. A imagem da felicidade em solidão emocionou até a cerne. Nunca é fácil perder a sanidade. Um dia, escrito em um e-mail, as razões foram recobradas. "Roubar idéias de uma pessoa é plágio. Roubar de várias é monografia". E a balada continuou a perfurar o órgão que pulsa.

Escárnio

Recria o rosto Na frente do espelho E pinta o olho Com precisão torta. Ela sorri confusa Vendo a imagem Que alterada Faz-se em lágrima. Mas, mesmo assim, Ela se apronta E afronta A sua derrota. A porta a convida Para uma dança Muito inesperada Que ignorada Percebe-se louca Em uma hora Pós-terminada. Encontra a rua E tropeça no orgulho Pensando no final Que não aconteceu. O escárnio Da sua lembrança Ficou ingênuo Como uma criança. E ela subiu escada adentro Para novamente Chorar o seu amor.
Não sei até quando vai durar. O coração não suporto mais os desafios. A cabeça não acompanha o raciocínio. Os olhos não mais enxergam o fim. Mais uma crise. Não estou falando de amor, estou falando da vida. Da minha. Não tenho mais a esperança de dias melhores. Não sinto mais o sabor das belas manhãs. Confundo a dor de agora com taquicardia. Não foi. O exame apresentou outro resultado que, aliás, eu já sabia. Angústia. Ansiedade. Tristeza. Eu, que nunca acreditei nas doenças psíquicas, agora sofro junto. Difícil perceber que acabei entrando nessa. A modernidade vista no passado me causava outros sentimentos. Percepções logicamente erradas. Enfim, bem-vinda depressão, seja lá o que você queira. Sempre achei que somente os fracos de razão pudessem sentí-la e permití-la adentrar o corpo. Nunca imaginei o quão forte a sua manifestação poderia causar. Basta engolir os comprimidos. Não sei até quando vai durar, mas agora entendo melhor aquele conto do palhaço que, depois das piadas, tira aos...

Cosmopolitan

Fortes características de um deja vú se formam em um momento de frio. Penso se a imagem não é apenas mais uma presenciada em um passado perfeito, mas não, os detalhes são novos e ricos no exagero do novo. A fumaça sobe de um cigarro preso no cinzeiro que descansa no balcão do bar. Um jazz carregado de paixão e ódio escapa das caixas de som. Miles Davis. A dona ao meu lado veste um longo azul escuro com uma abertura nas costas que revela uma bela tatuagem de dragão. Diria que ficou meio vulgar, porém, com presença e destaque. Um martini é entortado pela boca de finos lábios cobertos de batom claro. Esboço uma tentativa de sorriso disfarçado de charme e arranco um gesto de gratidão. Ela deve ter pensado: um outro otário perdedor se afogando em álcool para esquecer a realidade. O ambiente é bem eclético. Vários tipos se arrastam enquanto outros voam. Um rapaz jovial não consegue parar em um único lugar. Com uma jaqueta da Gap procura a melhor opção para uma foda. Pelo jeito não está apena...
Beijo de fogo. Olhos fechados. Olhos virados. Olhos vidrados. A cada minuto a imagem fica ainda mais forte. Um ego foi levantado, um ferimento foi fechado, um novo sentido agora é desenhado. Perceber as coisas complexas e fazê-las fáceis aliviou o temperamento. Nunca será como antes. Será melhor. Entre partidas e reencontros, o importante é o pacto cravado em peito aberto, sem angústia, sem modéstia. Tudo exagerado, como o planejado. Beijo de fogo, jogo de acertos, concertos aprovados. Consertos resolvidos. Sinfonias ao vento, grama como cama. Resoluções firmadas, contratos rasgados. Olhos fechados. Olhos vidrados. Virados. Dois achados, dois perdidos. Um no centro, outro no canto. Não importa. A porta aberta metafórica dá acesso ao céu. Meu rabisco, seu esboço. Arte final assinada por ambos. Nunca será como antes. Será perfeito. Desde que sonhos continuem. Vão! Beijo de sorte, beijo de sós, beijo de nós. Céu azul. Across The Universe. Ela caiu como lágrima olímpica, como colírio de vi...

Meio Mês em Meio aos Outros

Uma meia foda ao meio dia Meio estranho Equilíbrio em cama Uma meia alma Em meio à rua Me chama de paixão, Uma cidade e meia Escuta a declaração Que às 6h30 Volta para casa. Um meio abraço De um amigo Me traz conforto A minha mulher amada Desaparece Em meio à estrada. Noite e meia Em metade a mim Em meu quarto Escrevo amores Reflito dores E ouço todas. Uma foto e meia Me lembra saudades Relembro idades, Construo castelos E escuto ecos. Um meio amor Me deixou assim Meio confuso. Nota: Meio Mês em Meio aos Outros é uma canção. Sou meio desastrado em compor músicas. Na verdade, não tenho o mínimo talento para tal arte, mas gosto de brincar junto ao violão. Ela faz parte de uma série de composições que venho esboçando desde 2003. Nunca serão registradas, eu espero. Só uma pessoa escutou esta canção. Ficou surda. Brincadeira. Seria muita maldade para os ouvidos dos terceiros. De toda a forma, fica aqui a letra sobre um cara que encontrou o amor que, por sua vez, precisou ir embora e o deixo...

Sonhares

Um mais seguro viajo em horrores. Abstrato assim mesmo um retrato recém fotografado. A figura iconoclasta jorra frêmitos de ascos. Um turvo céu de gaivotas retraídas pousa no mar azul do litoral sul. Afunda em secos sentimentos prováveis de gratidão e solidez. O atroz pensamento de polvos captura os sonhos vazios que vagam perdidos em fumaça de cigarro. Ela não me fala, ela não opina. Só abro os olhos quando realmente quero acordar. Então, em castos suspiros analiso o plural das coisas sinônimas que antônimas apresentam os sentidos. Piso no fogo que a água não matou, bebo fluido de isqueiro para sentir o meu estômago queimar. Minha boca já proferiu tamanhas asneiras capazes de elevar a altura da Grande Muralha até a lua. Sim, ainda durmo.Passado o desespero dos momentos sem nexo, após uma pausa branca, analiso em anexo a carta recebida. Gosto da caligrafia, ela revela os segredos. Gosto do conteúdo, ele mostra inteligência. Mas acordo quando não quero. Bebo um pouco de água, deito nova...

Ter Amado

Entre café e cigarros, o que sinto é o seu sabor. Brendan Benson na vitrola, o sol pela janela e o vento do inverno levantando a cortina. Um livro no meu colo, uma carta ao meu lado, uma poesia a tiracolo. Paisagens bucólicas de tão lindas, melancólicas, revertem o pensamento em conseqüência imediata na memória. Pinto um sorriso no rosto e esboço um reencontrar. Entre café e cigarros, o que percebo é o seu gosto. Leituras astrais, músicas latinas e referências cubanas. Conversas hippies, falas amorosas, planos sem compromisso. Recordo uma outra história. Uma viagem para o Chile. Santiago. Lembro dos seus olhos. Brilhantes como as embalagens do Boticário no final de ano. Doçura na voz, forte na atitude, pele morena de praia. Os lábios como almofadas, os ouvidos como radares. Continuo a gostar, continuo a desejar, não apenas os detalhes, mas o completo. Procuro a agenda. Encontro o seu nome. Disco. O número não existe mais. Do livro no meu colo voa uma foto. Tinha até esquecido. A mesma ...
Misteriosos contatos Nos lábios de giz Que descrevem Uma história falsa. A visão é nublada Mas o amor está lá Com as suas frases prontas E pontas soltas. Segredos de plástico Guardados em memórias Artificialmente analógicas Escondendo o belo sentir De um cáustico amar. Vaza tristeza dos olhos Amarelos de trabalhar A saudade é proeza Dos que sabem lembrar.