Acende-se uma vela. Caminha até a sala para encher de coragem até a borda mais uma taça de vinho. Coragem líquida. Seus lábios alinhados perdem a geometria quando inicia a fala. Mas cala. O outro agradece pelo jantar extraordinário e começa um nefasto monólogo. Logo pára. Os dois se distraem no olhar que atravessa a vela. Uma troca revela:
- Sim, desculpe, não aguentei, deslizei, me perdi. A boca, agora, branquela:
- Imaginei, percebi, aceitei. Monossilábicos, então, esquadreja:
- Só isso, nada mais? A gravidade foi muito mais do que um triz. Eu fiz. Fui atrás, persegui, cantei, abracei, paguei. Eu pequei. Não me arrependo, nem um pouco. Fiquei feliz, sem ressentimentos. E sabe de uma coisa, acho que nunca te quis.
Um vento entra pela janela e balança a luz da vela:
- Ok, a melhor coisa que já ouvi de você. A melhor interpretação de sinceridade que consegui, que ouvi, que adorei.
- Já não ia bem, eu tentei o além. E agora, ficamos aquém?
A vela, finalmente, se apaga.