Cá estou, sozinho. Pensei novamente em descrever alguma passagem em terceira pessoa, mas a primeira me pegou bacana. Confesso: me entreguei. Há muito tempo não tinha uma sensação tão quente e fugaz, como uma canção da Aretha Franklin. De fato o momento se pareceu mais com uma narrativa niilista do Dylan. Tudo ao seu tempo.
A fumaça do cigarro entrando no olho, a pequena lágrima em instante, um olhar embaçado, um lenço, uma ajuda, um tudo bem. Um sorriso. O toque leve no rosto arrepiou os pensamentos mais íntimos, até os desconhecidos. Nunca um trago tinha me ajudado tanto. Afinal, descobri a sua pele. Não lembro a hora, não lembro o dia, mas lembro a marca da cerveja, o nome do bar, o início da consequência. Inclusive, ainda usávamos trema.
Os trejeitos com as mãos, a ênfase quando necessária, a defesa veemente das idéias, a paixão pelo Kerouac, os discursos drummondianos e a respiração calma nas conclusões das sínteses. A primeira conversa foi praticamente um estudo de caso sobre o acaso que, através do destino, ou não, iniciou pelo olho. E não há sensação mais incômoda ao ser humano do que sentir um microscópico cisco no globo ocular. Ok, um chute no escroto é 10.000 vezes pior. Foi apenas uma mera figura de linguagem para metaforizar um encontro pelo olhar, mesmo que um terceiro objetivo estivesse a incomodar, mas que aproximou a situação. Só faltou você ser oftalmologista.
Agora, cá estou, já sabendo que seria passageiro nessa viagem de férias curtas, relembrando os dias de paz, o tranquilo do abraço, o não compromisso dos verbos. Te vejo pelo ônibus, um tchau lento de conhecimento, consideração e conformação saliente. Encontros e despedidas. Existe o MSN, existem as ligações. Só não há mais a sua mão próxima ao meu resto permitindo um toque de satisfação.