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Madrugar, evaporar. Passar.


Madrugar. Afogo as minhas últimas angústias em um copo de café. Pela janela do apartamento vazio analiso o movimento preguiçoso dos corpos. Mais animados estão os clientes. Um grande som invade o cômodo e, principalmente, os meus tímpanos que já não mais apreciam o silêncio. Como eu queria você naquele momento. O seu riso calmo era como um disparo de Guilherme Tell, um riff de Richards ou um blues de James. Pequei pelo excesso, retrocesso e refestança. Errei.

Evaporar. A água vai embora. Mais um bule contendo café. Deixei você escorregar entre os meus dedos. Perdi. Deixei cair. Não consegui, não peguei. Não reconquistei. Chegaram a falar que éramos como irmãos, o que me deixava furioso. Faltava algo? O quê? Uma pena que não deu tempo de lhe perguntar. O retrato na geladeira vai continuar, eternizando um momento pacificador de uma tarde vazia. Já não ia bem, mas você aguentava.

Passar. Sabemos que somos fortes o suficiente para segurar as pontas, nem que sejam nos escritos e nos surtos psicóticos, nas letras das canções favoritas e nos livros prediletos. Alguns continuam aqui, não se esqueça. E sei que os seus cinco melhores CDs serão resgatados, para a minha não consolação. "Parachutes", do Coldplay, "Gran Turismo", do Cardigans, "Expresso 2222", do Gil, "Transa", do Caetano, e "Mais", da Marisa. Pop e MPB. O resto ficará comigo, mas deixo você ficar com o Neruda que nunca leu, parafraseando e lembrando o grande Chico.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.