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Anos

Aeroporto. 2008, talvez.

Eu estava prestes a desmaiar de êxtase. Não sei se isso acontece, sei lá. Nunca ouvi falar de alguém que apagou dessa forma. Meu corpo estava controlável, apesar da maldita vodca quente que bebi como se fosse o último líquido na Terra. Alguém teve a brilhante ideia de dar uma volta pela pista onde os aviões não pousavam mais. Possivelmente tenha sido eu.
O aeroporto desativado era a alegria da nossa turma nas noites quentes da cidade. O desmaio não veio, mas sim, outra coisa. Mesmo eu podendo utilizar isso como artifício de desculpa, de ter tomado a iniciativa precocemente alcoolizada, foi de caso pensado e eu sabia o que eu estava fazendo. Por isso beijei alguém.

Horas antes, estávamos apenas brincando, pequenas traquinagens de jovens pessoas que gostavam de curtir a vida juntos, independente do lugar. A luz da lua refletia no asfalto que servia de sofá para as nossas partidas de truco. Também servia de mesa para nossos copos, nossos salgadinhos da Elma Chips e cinzeiro para nossos cigarros. A noite estava absurdamente clara e esplêndida, como um cenário hollywoodiano de filmes farsescos. Os copos começavam a ficar vazios. Antes estavam preenchidos com gelo, vodca e Sprite. O gelo e o refrigerante sempre acabavam antes. Ficava a vodca que era bebida pura. Eu lembro que ela sempre amortecia meus lábios, mas nunca como aquele beijo causou.


Continua...

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.