É uma noite qualquer de quinta-feira. Você sai para beber com seus
amigos. Eles sabem do seu problema. Alguns entendem, outros não. A mente humana
ainda é repleta de interrogações. Entre o primeiro e o segundo copo de cerveja,
repentinamente, suas mãos começam a suar, seus pensamentos ficam confusos,
tenta se concentrar em algo, mas apenas enxerga um demônio dizendo no seu
ouvido: - chegou sua hora, você vai morrer! O coração dispara e, no peito, você
sente uma pressão tremenda, como se o seu pulmão quisesse sair pelas suas
narinas. A respiração descontrolada dá a impressão de que não há ar suficiente
em todo o planeta Terra. Disfarça, tem palpitações e bebe um gole de cerveja. A
conversa na roda de amigos continua e você se levanta, inventa alguma desculpa
e sai pelas ruas desesperadamente, procurando acalmar algo que não consegue.
Depois de 40 minutos, já em casa, no sofá, ouvindo Iron and Wine, você pensa: -
maldita crise de pânico, de ansiedade, depressão, o diabo!
Antes de procurar uma benzedeira, consultar o horóscopo, ler livros de
autoajuda, vá a um médico especialista. Terapias contribuem consideravelmente,
mas o primeiro passo é compreender esses sintomas. Explicar para as pessoas
próximas, que estão ao seu lado, te amando e te admirando, ajuda pacas! É claro
que existirão àqueles que falarão: - não se preocupe tanto, existem outros que
estão muito pior do que você. Já me disseram isso uma vez e a minha vontade era
de pegar uma caneta e furar os olhos do conselheiro. Respire, o seu cérebro
funciona de maneira diferente.
Uma querida amiga, que sofre dessas crises, além de medicada e de
fazer terapia com psiquiatra e psicólogo, gosta muito de conversar a respeito,
com um único objetivo: chorar. E ela é muito bem resolvida quanto a isso, o que
acho admirável. De uma maneira que não sei explicar, não tenho a mínima
competência técnica para isso, as lágrimas dela contribuem como um escape da
ansiedade acumulada. Tudo termina em um abraço e a vida continua.
São nessas não banalidades que se encontram as pequenas ferramentas,
que se tornam enormes, no combate e na contribuição junto ao convívio social.
Sim, viver em sociedade é uma batalha terrível, ainda mais quando se tratam de
pessoas que são sentimentalmente sensíveis. Graças aos bons deuses que elas
existem. Mas, voltando à minha amiga, outra coisa que ela faz, que é
fantástico, além de arrumar a cama todo o dia e manter uma alimentação saudável
(que inveja!), é fazer listinhas. Em sua bolsa, tem um caderninho todo
trabalhado com imagens da Frida Kahlo, onde se encontram detalhes da sua vida.
Pode parecer algo meio ridículo, mas ela anota tudo, ou quase tudo, que fez
durante o dia. Quando toma banho, anota, sempre com alguma frase complementar.
Exemplo: “7h35, entrei no chuveiro,
minha colega de apartamento, novamente, não tirou os fios de cabelo do ralo do
box. Que merda”. Mais um exemplo? “10h34,
meu chefe me chama. Disse que preciso ser mais sociável. Sociável são as minhas
fezes!”. Ainda bem que, ao menos, esse sarcasmo a mantém ativa.
Se você não sente isso e não consegue entender os sintomas, primeiro,
parabéns, e segundo, se conhece alguém que sofre dessa patologia, ofereça seu
abraço, mesmo se estiver numa mesa de bar conversando com a guria mais linda de
Pato Branco. E nada de dar conselhos do gênero: pare de sentir pena de si mesmo
e faça um esforço maior. Às vezes é melhor ficar quietinho, olhar no fundo dos
olhos, estender os braços e fechar seu amigo depressivo em um abraço. São esses
pequenos gestos de união (alô meu Brasil, é disso que precisamos) que fazem o
capeta cerebral se distanciar.
Leonardo Handa – Jornalista, redator e sofredor mental