Meu nome é Leonardo Silveira Handa. Jornalista. Perdido. Achado. Amante. Radialista.

sexta-feira, setembro 11, 2015

A pequena sala das canções ridiculamente que falam ao coração

Sentado. Nunca tinha chorado tão sinceramente com uma canção. E foi ridículo. Logo numa música do Tiago Iorc? Digo isso porque nem sou fã do cara, apesar de suas boas composições. Mas “Um Dia Após o Outro” me derrubou. Eu parecia um bobo, abraçado ao violão, no sofá, com os olhos suados. Escutei-a mais de uma vez, até tirei as notas de ouvido. Ao tentar cantar, embarguei. Algumas frases eu executava como mantras, pegando aquelas verdades para interiorizar na mente, guardadas em uma caixa frágil, pronta para você abri-la. Infelizmente, não tinha ninguém ali, ninguém com a bondade de ver o que tinha dentro dela. E você não é ninguém. É aquilo que um dia eu queria guardado em um potinho, num pensamento totalmente egocêntrico. Enfim...

Como sabe, após um vídeo do Youtube terminar, inicia outro automaticamente. O destino (que sabemos que é um conjunto de programações cibernéticas) colocou o álbum da Clarice Falcão. Pode? Novamente, como uma criança que ralou o joelho ao cair de skate, abri um berro. Quem gosta da ex-namorada do Gregório Duvivier sabe que a primeira faixa do álbum dela se chama “Eu Esqueci Você”, cuja letra é tão tolamente sincera que dói em qualquer ser que possui aquilo que, vejam só, chamamos de coração. Pois é. Eu ainda não esqueci.

Falando dele, o coração anda tão fora de moda, né? Mesmo com vários cantores/compositores que se entregam a parir belíssimas dores de cotovelo, de mãos, de nariz, de pés, de membros que precisam do sangue bombardeado por quem? Pelo coração, oras! E é um tal de Léo Fressato que espirra nos tímpanos petardos delicados de som e fúria, como em “Veranizar”, quando canta: “não vou me importar se você não lembrar do meu aniversário outra vez, nem vou mais chorar se você não ligar por mais de um mês”. Ou então uma Ana Larousse, tão linda com suas sardinhas no rosto, que nos indaga com questões românticas e existenciais. “Se você só soube aconchegar a raiva, o que é que agora eu posso te dizer?”. Maldita compositora radicada em Curitiba, cidade de um cinza que traz vários tons gris que se transformam em azuis quando olhados de cabeça para baixo. O que isso significa? Nada, além da esperança de dias melhores.

Ainda percorrendo pelas aventuras automáticas do Youtube, o choque no tímpano prosseguiu com outra surpresa que explodiu a artéria. Mallu Magalhães, futura mamãe, toda graciosa em sua falta de habilidade em falar, mas certeira em compor, me abençoa com conselhos. É isso mesmo? A cantora com seus 23 aninhos me aconselhando dentro desses 34 outonos por eu completados? Sim. Ah, e como isso me rasga. Vai Mallu, me encante: “Olha só, moreno do cabelo enroladinho, vê se olha com carinho pro nosso amor. Que eu sei que é complicado amar tão devagarinho e eu também tenho tanto medo. Eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando, mas se a gente vai juntinho, vai bem. Eu não sei se você sabe, mas eu ando aqui tentando e a gente tem o eterno amor de além”.


Dentro dessa categoria rara de novos românticos (não citarei nenhuma música do sertanejo atual porque acho que falta nele uma dor verdadeira), o cantor Silva e seus teclados etéreos, visita o pé do meu ouvido, me dando um chute nas bolas: “Deixa ser como é, tu fizeste outro mar. O oceano dessas coisas que desejo”. E assim eu fechei o notebook e fui ler um livro, “Por onde andam as pessoas interessantes”, do Daniel Bovolento. Fim. Ou recomeço?