Sentado. Nunca tinha chorado tão sinceramente com uma canção. E foi
ridículo. Logo numa música do Tiago Iorc? Digo isso porque nem sou fã do cara,
apesar de suas boas composições. Mas “Um Dia Após o Outro” me derrubou. Eu
parecia um bobo, abraçado ao violão, no sofá, com os olhos suados. Escutei-a
mais de uma vez, até tirei as notas de ouvido. Ao tentar cantar, embarguei.
Algumas frases eu executava como mantras, pegando aquelas verdades para interiorizar
na mente, guardadas em uma caixa frágil, pronta para você abri-la.
Infelizmente, não tinha ninguém ali, ninguém com a bondade de ver o que tinha
dentro dela. E você não é ninguém. É aquilo que um dia eu queria guardado em um
potinho, num pensamento totalmente egocêntrico. Enfim...
Como sabe, após um vídeo do Youtube terminar, inicia outro
automaticamente. O destino (que sabemos que é um conjunto de programações
cibernéticas) colocou o álbum da Clarice Falcão. Pode? Novamente, como uma
criança que ralou o joelho ao cair de skate, abri um berro. Quem gosta da
ex-namorada do Gregório Duvivier sabe que a primeira faixa do álbum dela se
chama “Eu Esqueci Você”, cuja letra é tão tolamente sincera que dói em qualquer
ser que possui aquilo que, vejam só, chamamos de coração. Pois é. Eu ainda não
esqueci.
Falando dele, o coração anda tão fora de moda, né? Mesmo com vários
cantores/compositores que se entregam a parir belíssimas dores de cotovelo, de
mãos, de nariz, de pés, de membros que precisam do sangue bombardeado por quem?
Pelo coração, oras! E é um tal de Léo Fressato que espirra nos tímpanos
petardos delicados de som e fúria, como em “Veranizar”, quando canta: “não vou
me importar se você não lembrar do meu aniversário outra vez, nem vou mais
chorar se você não ligar por mais de um mês”. Ou então uma Ana Larousse, tão
linda com suas sardinhas no rosto, que nos indaga com questões românticas e
existenciais. “Se você só soube aconchegar a raiva, o que é que agora eu posso
te dizer?”. Maldita compositora radicada em Curitiba, cidade de um cinza que
traz vários tons gris que se transformam em azuis quando olhados de cabeça para
baixo. O que isso significa? Nada, além da esperança de dias melhores.
Ainda percorrendo pelas aventuras automáticas do Youtube, o choque no
tímpano prosseguiu com outra surpresa que explodiu a artéria. Mallu Magalhães,
futura mamãe, toda graciosa em sua falta de habilidade em falar, mas certeira
em compor, me abençoa com conselhos. É isso mesmo? A cantora com seus 23
aninhos me aconselhando dentro desses 34 outonos por eu completados? Sim. Ah, e
como isso me rasga. Vai Mallu, me encante: “Olha só, moreno do cabelo
enroladinho, vê se olha com carinho pro nosso amor. Que eu sei que é complicado
amar tão devagarinho e eu também tenho tanto medo. Eu sei que o tempo anda
difícil e a vida tropeçando, mas se a gente vai juntinho, vai bem. Eu não sei
se você sabe, mas eu ando aqui tentando e a gente tem o eterno amor de além”.
Dentro dessa categoria rara de novos românticos (não citarei nenhuma música
do sertanejo atual porque acho que falta nele uma dor verdadeira), o cantor
Silva e seus teclados etéreos, visita o pé do meu ouvido, me dando um chute nas
bolas: “Deixa ser como é, tu fizeste outro mar. O oceano dessas coisas que
desejo”. E assim eu fechei o notebook e fui ler um livro, “Por onde andam as
pessoas interessantes”, do Daniel Bovolento. Fim. Ou recomeço?