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Conto Perdido

Era um canto triste aquele ouvido na alta madrugada. A melodia rasgava delicadamente a lembrança confusa de outros verões. A luz da lua penetrava pelo vidro da janela. Não havia nuvens no céu e as estrelas estavam propícias a mostrar o brilho intenso de cada qual. Estava eu deitado na sacada do meu apartamento, acompanhando o movimento da canção enquanto recebia no corpo uma abençoada brisa noturna. Meus cigarros tinham acabado, então eu estava fumando orégano enrolado em uma página da revista Caras.
Em um certo momento cheguei à conclusão de que o Elliott Smith só podia estar pensando em merda quando resolveu tirar a sua vida. Mas, isso é mal de gente metida a gênio. Kurt Cobain que o diga com um tiro nos miolos. Contudo, a sua rápida passagem entre nós terráqueos já valeu pelas pérolas compostas de maneira soberba. "XO" continua um clássico. Nick Drake também fez isso, lembrei agora. O compositor inglês deixou antes uma arte de derramar a última lágrima virgem de um garoto recém estuprado pelo padrasto, chamada "Pink Moon". O jeito de cantar a vida nunca mais foi o mesmo após os mísseis em formato de dedilhados de violão lançados pelo bardo.
Fiquei mais um momento curtindo a brisa. Não agüentei, levantei e fui comprar um maço de cigarros. Aproveitei e peguei uma caixinha de cervejas. Também comprei Ruffles. Ao voltar para casa, umas meninas e suas saias microscópicas me sorriram um serviço. Minha carteira não continha o agrado por elas solicitado. Retribui o favor com um cigarro e uma latinha de cerveja. Elas me agradeceram e foram de encontro ao desconhecido. O objetivo delas era a invasão vaginal por algum membro qualquer. Desde que pagassem, óbvio.
A noite estava muito agradável. Enquanto fumava um cigarro e matava mais uma loira gelada, pensei em várias coisas, muitas merdas e outras tantas. A linha de raciocínio não era lógica. Analisei os cúmplices, percebi os culpados, valorizei a pessoa amiga. Não encontrei nenhuma conclusão, até mesmo porque, a intenção não era encontrar. Mas percebi ainda mais o quanto é complicado esse mundo moderno. Ao menos dizem que é. De toda forma, deu para ter a percepção de que eu estava certo. Não se envolver é o melhor, só quero me animar, me divertir. E no caminho de volta para casa, sozinho, a companhia ideal percebida são as histórias a criar. Agora é aguardar a próxima viagem.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.