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Mostrando postagens de setembro, 2008

José Dirceu estava errado

Vivemos em uma época de urgência. Já sabemos o sabor antes de experimentar e criticamos antes de analisar. Estamos perdidos na depressão da falta de tempo, uma doenças sem receita para adquirir. Poucos ainda conhecem o prazer da observação: da frase inspiradora ao solo de piano. Os românticos, de fato, encontraram o vaso sanitário e desceram até o esgoto da conformidade. Nossos acadêmicos não têm mais ideais. A própria faculdade está moldando mentes com atitudes de butique e conceitos pré-fabricados e viciados. Os velhos mestres morreram em suas próprias sombras. Os conselhos são verdadeiros tratados que enaltecem o poder capital. Os sentimentos são instantâneos. Nossos jovens desconhecem Jean-Luc Godard, não transam Caetano fase 1960-1970 e nem sabem da Brigidet Bardot. Como cobrar de uma classe se nem mesmo os docentes têm referências. Nossos professores se encontram em um estado de inércia que chega a arder os olhos em desânimo. Onde estão os agentes do ensino-aprendizagem de verdad...
Eu deixo você entrar Desde que acompanhada Do artigo que chamamos amar. Não precisamos de muito além Certas coisas, encontramos por aí Um pedaço de pão, um álcool lá Uma cigarrilha outrora Embora eu perceba acolá Já que a tosse chega bem Mas levamos conforme vem. Os dias podem ser iguais Bastam aos olhos os seus presentes Sei que não pedimos muito O resto o imposto já levou Tenhamos um pouco de ausentes Afinal queremos a solidão Somente para que os períodos Venham mais carentes Então possamos matá-los Com aquele gosto forte Que encontramos no avante norte. Não precisamos de muito quem O nosso qual é o suficiente Aliás, sempre com Seguimos mais constante. Não duvidamos dos poréns Eles pairam no dia-a-dia Todavia diluídos vão Desde que tenham a nossa companhia. Leonardo Handa - 23 de setembro, 2008 - inverno

poema rápido

uma pequena alegria me abriu o sorriso atmosférico rir não constrangido dedilhei um toque por dizer percebi que não foi interrompido. seus olhos abstratos perceberam retornaram em um piscar estremecido aos poucos de fato entenderam liberei outro verso acontecido. leveza em pálida constante anoitecer o céu percebi que fosse padecer mas não era hora de despedir sua mão envolveu a minha outra não tive como enaltecer Retribui um ávido encostar sentido na pele revelada um som lindo de acompanhar entreguei a sinceridade

Amálgama

Uma linda canção arrastada transformou o seu holograma em matéria, em tátil, em massa. Ainda com os olhos fechados eu procurava enxergar com as mãos, somente para descobrir cada intimidade da sua pele. A música chegou ao final. Aquela mesma e manjada nota derradeira fez tanto sentido na profundida castanha dos seus cabelos que, de fato, não vi. Após abertos, percebi como o tempo e o destino revelaram tardiamente a sua presença, "que entrou pelos sete buracos da minha cabeça", como cantou Caetano. Afinal, o baiano é a nossa satisfação sonora dividida e contemplada. Mesmo assim, me pergunto: - Por que só agora? Tínhamos de ter tido outra oportunidade. Se fosse um ano antes, o diferente se faria presente, as angústias seriam açúcar, os dizeres, coloridos, e os beijos, não clandestinos. Mas, como "os infernos são os outros", basta continuar com os olhos fechados. Meia-luz, meia taça, meio vinho, meio assim. Meio abraço. Metades. Sejamos. O meu grito foi de fúria. Fúria ...
Oi, Leozinho! Escrevi esse texto pra falar um pouco do que já falamos, do que eu leio de você no que você escreve e de certo modo para celebrar nossa amizade literária. Um Feliz aniversário, atrasadíssimo, mas cheio de lembranças de muitos momentos marcantes e da certeza de que vamos ser sempre amigos!!! Um super beijo, Adri. Segue o texto: Eu ia cantar um mantra, um dia Pra realizar aquela sua fantasia Você lembra? Tanta coisa na vida eu deixo assim Livre das urgências, longe de emergências Sou uma antítese da pressa Escuto e sussurro coisas Faço dias dos fragmentos de tempo Como quem monta um quebra-cabeça Eu vivo num jogo de paciência Mas fala comigo a tua letra avessa Meu ritmo cardíaco errante Entende o compasso do teu verbo E essa tua percussão tão precisa Eu falo quase na quietude da simplicidade Sobre a tua complexidade berrante Espero que a conversa sempre avance De um lado, que a tua pressa grite Poderosa, adjetiva, exagerada Vivamente escrita Enquanto por aqui Vou escrevendo...
Deitado. Ben Folds Five na vitrola. O pensamento corre livre no dedilhar do piano. Narcolepsy. A voz massageia os tímpanos. Algumas imagens se formam. Um campo verde e apenas uma árvore solitária na paisagem. Um céu com poucas nuvens cinzas aparecem. O vento balança as folhas. Uma se joga em queda livre encontrando o chão. Os olhos se abrem. Observo a luz vermelha. Um aviso pessoal grita: dez minutos. Não levantado. As canções continuam a me fazer companhia, a mais fiel, a mais perfeita, a mais deliciosa, a mais voraz. Sempre fico nervoso antes de enfrentar o público. Mesmo com os anos de experiência, entreter o eleitorado me dá gelo no estomâgo. Acendo um cigarro, olho o roteiro. Hoje vai ter palhaço, leão e picadeiro. Panis et Circense. Sem motivo, relembro aquele discurso do Caetano em um festival quando ele foi vaiado no momento que cantava palavras de ordem. Como eu gostaria de estar lá. Não para engrossar o caldo do coro dos descontentes, mas para vivenciar um período tão importa...

Quero mais rápido do que preparar um Nissin Miojo

Eu quero a urgência de uma das canções do Doolittle. Qualquer uma do álbum. The Pixies sempre me trouxe alívio. Eu quero ser afoito neste momento de armageddon. Quero explodir em um momento único. Quero o imediato. Quero mais rápido do que preparar um Nissin Miojo. Quero cru, quero vivo, quero só. Eu quero o artificial dos lábios da Pamela Anderson, quero as almofadas de falar da Angelina Jolie. Quero dormir com você e acordar com a Cat Power. Eu quero um grito no vácuo. Eu quero um surdo no berro. Eu quero a alma em migalhas. Eu quero o coração do pássaro mais raro, do felino mais extinto, da pedra preciosa não descoberta. Eu quero a sua melhor canção não composta. Eu quero a calma em raiva. Eu quero um beijo roubado. Eu quero um acorde quebrado. "O mundo é pequeno pra caramba, tem alemão, italiano, italiana... O mundo é uma salada russa, tem nego da Pérsia, tem nego da Prussia". Eu quero o desespero. Tudo bem, eu não espero, por isso quero agora, quero embora, quero porém, ...

Samba de Emoção

Vai, coração. Exploda no último acorde Bem no fim da canção. Jogue da artéria a última gota O derradeiro sentimento O caos do ressentimento A primeira emoção. Uma nota dissonante Uma vida errante Um cemitério de elefantes Uma antologia de escritos Um álbum não ouvido Um amor não vivido. Vai, coração. Entre em auto-combustão No próximo solo Regado a alcatrão. Deixe a fumaça vazar da aorta Ficando aos poucos morta Em uma partitura outrora. Em um beijo perdido Em um olho de vidro Em um castelo de pó Em um desejo aberto Em um brinquedo de Lego Em um sorriso de plástico Em um Cristo de nó Em um poema fechado Em uma clave de sol. Vai, coração. Perceba o sustenido Com um descalibrado ouvido Que não sintoniza o sim Só justifica o não No dedilhar moribundo De um belo e triste Samba de emoção.