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Deitado. Ben Folds Five na vitrola. O pensamento corre livre no dedilhar do piano. Narcolepsy. A voz massageia os tímpanos. Algumas imagens se formam. Um campo verde e apenas uma árvore solitária na paisagem. Um céu com poucas nuvens cinzas aparecem. O vento balança as folhas. Uma se joga em queda livre encontrando o chão. Os olhos se abrem. Observo a luz vermelha. Um aviso pessoal grita: dez minutos. Não levantado.

As canções continuam a me fazer companhia, a mais fiel, a mais perfeita, a mais deliciosa, a mais voraz. Sempre fico nervoso antes de enfrentar o público. Mesmo com os anos de experiência, entreter o eleitorado me dá gelo no estomâgo. Acendo um cigarro, olho o roteiro. Hoje vai ter palhaço, leão e picadeiro. Panis et Circense. Sem motivo, relembro aquele discurso do Caetano em um festival quando ele foi vaiado no momento que cantava palavras de ordem. Como eu gostaria de estar lá. Não para engrossar o caldo do coro dos descontentes, mas para vivenciar um período tão importante na história da música brasileira. As vaias me chamam a atenção. Até João Gilberto recebeu. Então, a gente pensa: como é difícil o público do país. Alguns são tão contraditórios que arrepiam a espinha.

10 segundos. Subo no palco, minha alma cheira talco, parafraseando a canção do Gil, e desejo uma boa noite. E boa sorte. Para a minha pessoa. Claro. Apresento as atrações da noite, faço minhas micagens, um tanto sem graça, observo os minutos passarem, vejo os comerciais passarem, analiso o público e encerro. Pelo corredor, retornando ao camarim, lembro daquela imagem que eu estava formando anteriormente. A árvore continua lá, solitária, mas agora as nuvens estão em companhia de outras mais escuras. Uma chuva inicia. Acendo outro cigarro. Fico viajando. O pensamento livre novamente. Encontro o sofá. Ligo o som. Ben Folds Five. Desligo-me do mundo. Nada faz sentido. Uma outra folha cai da árvore. Molhada. Como o desespero dos meus olhos que agora vazam a insatisfação. Tudo bem, sou apenas um personagem. Não sou feito de razão, sou feito de letras e bytes. Porém, demonstro uma situação.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.