Vai, coração.
Exploda no último acorde
Bem no fim da canção.
Jogue da artéria a última gota
O derradeiro sentimento
O caos do ressentimento
A primeira emoção.
Uma nota dissonante
Uma vida errante
Um cemitério de elefantes
Uma antologia de escritos
Um álbum não ouvido
Um amor não vivido.
Vai, coração.
Entre em auto-combustão
No próximo solo
Regado a alcatrão.
Deixe a fumaça vazar da aorta
Ficando aos poucos morta
Em uma partitura outrora.
Em um beijo perdido
Em um olho de vidro
Em um castelo de pó
Em um desejo aberto
Em um brinquedo de Lego
Em um sorriso de plástico
Em um Cristo de nó
Em um poema fechado
Em uma clave de sol.
Vai, coração.
Perceba o sustenido
Com um descalibrado ouvido
Que não sintoniza o sim
Só justifica o não
No dedilhar moribundo
De um belo e triste
Samba de emoção.