Quase madrugada. O sono não chega. Ele está cansado, mas não quer repousar os olhos. Acabou de fumar e agora sente na boca o gosto da saudade. O tabaco lhe traz recordações. Fica pensando na película apreciou. Isso remeteu a outras lembranças. Amores desejados, confinados e descartados. Amores vividos, observados e salientados. Amores hipérboles, frêmitos e sagazes.
Quase virando o dia. O sono insiste em não aparecer. Nem sequer dá um resquício ou uma sugestão que poderá se apresentar a fim de aliviar o pensamento. Ele só pensa em ouvir a voz, nem que seja pelo telefone. Ele só pensa na paixão, que quis ferir com uma traição. Ele acredita que foi voluntária. E qual não é? O propósito pode ter existido para tornar as coisas mais fáceis. Isso lhe causa raiva, ódio e nojo. Mas o amor é uma grande besteira que permite à pessoa estender o perdão em lábios sedentos por um abrigo que outrora o carinho aliviou. Como entender os meandros do coração se a mente é complemento da organização humana? Ele nem se tocou do que disse em voz alta; uma indagação interna de sentido confuso. Ou não.
Ele só queria falar que não há como negar ou apagar os momentos vividos e seguir simplesmente na ignorância de não ter curtido, amado e aproveitado a experiência. Ele faz um esforço danado para tentar ao menos riscar da memória certos perdizes ou procurar os elementos que servissem de conforto para aceitar a situação. Têm dias que ele consegue. Têm dias que ele se afunda. Seria assim sempre? High and dry? Pergunta-se.
Quase dia. Ele precisa se dedicar ao trabalho. A latente dor quase não lhe permite. Paciência, ele pensa. Algo que não possui, mas tenta levar mais 24 horas com o coração prestes a "vulcanalizar".