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Grana

Estávamos nos amassando no sofá. Os lábios se entrelaçavam com aquelas mordidas levianas, mas que fazem levantar o arrepio. Por cima, o beijo começou a ficar mais louco e doce. Além dos vizinhos de cima, a testemunha era a TV ligada. Aquela luz azul sob o rosto criava um pequeno mistério na minha retina. Um detalhe em suas costas me chamava a atenção: uma cicatriz meio aberta. Possivelmente um machucado recente, como se apenas uma garra do Wolverine tivesse rasgado o couro. Eu deslizava o dedo delicadamente sobre a pele em alto relevo. Como não disse que doia, continuei.

Como era de se esperar, as mãos começaram a ficar bobas. Das costas, foram descendo, alcançando as nádegas. Que nádegas. Durinhas como as de Helena de Tróia. A tez morena fica mais bela com aquela luz da TV. A gente reclama, porém, o televisor em qualquer canal é sempre companhia. Até para o início do sexo. Lógico que nem estávamos prestando atenção no meio de comunicação. Só lembro de ouvido de longe "Lets Dance" como trilha de alguma matéria. Fiquei mais empolgado e a mão, da bela bunda, seguiu para as partes baixas dianteiras. Meu carinho começou a ficar meio desesperado. Deu para perceber no gemido que, com certeza, foi ouvido pelo vizinho de cima, que recebia visitas no momento. Pior que estavam todos na varanda.

A coisa começou a ficar cada vez mais série. Foi quando escutamos o trinco da porta. Meu pensamento clássico: fodeu! A irmã mais velha, que dividia o porão da casa, tinha chego. Rapidamente vesti minha camiseta, peguei o meu boné e sentei. Finjimos que nada estava acontecendo. Se ela acreditou? Lógico que não! Não dava para entender o seu olhar, um misto de deboche com seriedade. Cumprimentou, foi até o quarto, pegou sua roupa e foi tomar um banho. A luz novamente foi apagada e começamos a nos beijar novamente. Incomodado, eu digo:

- Te ligo amanhã, agora é a minha deixa, hora de vazar!

- Não vá, não me deixe.

- Melhor agora, sério, é o momento. Sua irmã ficou brava. Você já trouxe outros caras aqui?

- Não, você é o primeiro.

- Bosta!

Levanto rapidamente, dou mais um beijo, pego minha carteira de cigarro e grito:

- Desculpe! Estou indo embora, foi mal o incomodo. Do banheiro, a irmã responde:

- Agora que cheguei você vai embora?

- Sim, estou deveras constrangido e não saberei como agir quando você sair do banho. E caimos na gargalhada.

Ao sair da casa, só percebo o vizinhos de cima comentando com as visitas:

- Que tivessem ido para um motel, não? - Exatamente! Por que não preferi ir ao motel? Oras, era final de mês, porra! Estava sem grana.


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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.