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Manhã de glória, pensava ele. O céu estava com uma cor idiota, que lhe dava raiva, mas ao mesmo tempo, contentamento. A música do vizinho debaixo falava sobre um tal de Mr.Scarecrow. Deixou a preguiça na cama e foi fazer o café. Mas antes, percebeu algo: um corpo estranho ao seu lado se mexia. Resolveu não acordá-lo e se encaminhou até a cozinha.

Deixou a água fervendo e correu ao banheiro tirar o hálito podre matinal. Ao se olhar no espelho, percebeu uma marca em sua bochecha. Algo parecido com uma mordida. Definitivamente era uma mordida. Não se lembrava como aquilo havia acontecido. Teria sido o corpo estranho? A embocadura era razoavelmente grande. Ficou confuso. Escovou os dentes, mijou e voltou à cozinha.

A água, já fervida, era observada pelo ser que tinha despertado. - Bom dia - falou. - Dormiu bem? - perguntou. - Sim, como um anjo. Sua cama é deveras confortável. Deveras? Indagou-se mentalmente. Quem ainda fala essa palavra? Ele não deve nem ter 22 anos! - Que bom que gostou - comentou, meio sem jeito. - Uma pergunta: como viemos parar aqui? Eu sei que é a sua casa, mas poderia me explicar como chegamos? - Mais perdido que um japonês em baile funk, ele não soube responder. - Desculpe, não consigo nem lembrar o seu nome. - Prazer, Gabriel - respondeu. - Prazer Gabriel, você está em meu apartamento e eu não tenho resposta alguma. Apenas sei o que você sabe, ou seja, nada! 

Os dois tomaram café, conversaram como estranhos e estavam recordando a noite anterior, que de memórias apenas os flashbacks eram presença. Trocaram ideias sobre música, falaram que gostavam de The Decemberists e, assim que o efeito da droga passou, lembraram que eram namorados.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.