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Descompromisso com a vida

Quinta-feira. Véspera de sexta-feira, o dia nacional da bebedeira. Nada melhor do que dar prosseguidade ao vômito que ainda espera. Um vinho quente e barato deslizando pelas paredes de carne com cerveja gelada e coração na boca. Acendo o terceiro tabaco já pensando no fim da carteira. O local? Um posto qualquer de uma cidade também qualquer. Aliás, o qualquer nesse caso pode acabar soando como um adjetivo. Deixando o subjetivismo de lado, trata-se daquele posto em frente à Grazziotin e a cidade é Pato Branco, nos confins do Sudoeste do Paraná.
O primeiro personagem da noite a fazer companhia, é um bêbado, um dos vários perdidos pela sujeira do município. O papo repetitivo e chato causa caláfrios a ponto de pensar em dar um soco na fuça do desgraçado. Mas o sentimento de pena balança e acaba caindo em perdão.
Ele mostra um relógio que deve ter roubado. O cheiro de cachaça se mistura com o bafo e cria uma verdadeira bomba de Napalm. Não agüento. Porém, os pedidos para ele ir são inofensivos. A minha amiga Luciane Koba deu um jeito. Meio estúpido para falar a verdade, entretanto, contribuiu e ele foi embora.
Conversas gritadas e música de apelo duvidoso acompanham a nossa noite que ainda nem começou. Ela só iniciou quando encontrei a minha cama e outros sonhos vieram me destruir.
Passadas algumas horas e outro ser da noite chega para nos acompanhar. Chamam ele de Caxuxa. O nome verdadeiro, acredito, nem ele deve lembrar ou deve ter bebido com cicuta. Quem sabe a Ação Social tenha jogado o nome dele fora. Bom, ninguém sabe.
O nosso querido amigo, seu Pedro, perdeu a paciência e protagonizou cenas de coragem que me deixaram sem jeito. Mas, vou para o bem da pacificidade e da boa ordem mundial que as coisas não costumam provar.
Água foi jogada em cima do cadáver vivo. Mais uma vez o sentimento de pena invadiu o meu semblante. Vários pensamentos me aterrorizaram. Porém, a chatice proporcionada pelo segundo bêbado era de proporções tão cavalares que logo esqueci da pena. Pensei em penalidade máxima mesmo, cartão vermelho, expulsão. Sem coração.
Continuamos a beber, a fumar, a gritar, a dançar, a arrotar. Um arroto azedo que lembrei enquanto eu sonhava quando em casa estava. Sonhei com os bêbados jogados no noturno dilacerante escárnio. Mas, acordei bem.

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um gole de derrota nesse asco. um casco entre as unhas, colabora. o copo quebrado acumula pó e o nó na garganta é charme. a calma quer explodir em caos para um fundo em furo se enfurecer na poética dissonante de um crescente anoitecer. mencionado antes, agora exposto "o mundo está duas doses abaixo" por mais que às vezes, acima, recria o oposto da colocação. então, não tenha medo hora ou cedo o coração padece e merece um aproveitar que tenha como fim o sorrir. (mas não acontece).

Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.