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Cinco sentidos + equilíbrio

Os cinco sentidos quando aguçados de uma boa companhia ficam mais perceptíveis. Eles nos orientam e também desorientam, causando sensações em nosso equilíbrio que passa pelo perfeito ao descontentamento. Mas quando temos uma pessoa que podemos contar ao nosso lado, os sentimentos bons invadem e alagam a alma. Caetano Veloso compôs frases certeiras brincando com os sentidos. Na canção “A Tua Presença”, ele entrega: “A tua presença entra pelos sete buracos da minha cabeça/ A tua presença/ Pelos olhos, boca, narinas e orelhas/ A tua presença paralisa meu momento em que tudo começa/ Desintegra e atualiza a minha presença/ A tua presença envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas”.
Os sentidos se completam. Às vezes precisamos tocar para ver. Em outras situações, precisamos ver para cheirar. Sem falar do cacoete que, quando pedimos para observar melhor uma coisa, as mãos tocam o objeto para realmente termos certeza de que aquilo que estamos tocando é o que estamos vendo.
Os sentidos também são extensões das nossas lembranças. Quantas vezes passamos por uma paisagem e, por falta de uma máquina fotográfica, registramos com os olhos o momento. Ou quando passamos por alguém desconhecido que usa um perfume marcante, que remete a recordações de pessoas conhecidas que utilizam o mesmo perfume. Parece que isso encurta a distância, a falta da presença, o acaso (des)percebido. Assim como quando saboreamos um bom feijão com arroz feito pela avó. Mais lembranças invadem o encéfalo.
O legal é também quando estamos ouvindo rádio no carro e de repente toca uma música que marcou época, seja no amor, nos encontros clandestinos, nas festas da faculdade, nos encontros com os amigos. Como já disse o filósofo Nietzsche: “A vida sem a música seria um erro”. E como seria se não pudéssemos escutar as peripécias com as palavras e com as melodias que um Chico Buarque pode fazer. Ou então a invenção sonora dos Beatles, o contagio imediato dos Strokes, o desconcerto vocal da Marisa Monte, o saudosismo do Noel Rosa ou a poética dissonante do Leonard Cohen. São tantos exemplos que é até um crime citar somente essas bandas e músicos. Escolhas nem sempre são fáceis. E os cinco sentidos também nos ajudam a escolher, além de nos proporcionar equilíbrio. Sobretudo quando temos uma pessoa especial fazendo companhia, ouvindo nossos dilemas, vendo nossas expressões, sentindo nosso cheiro, abraçando nossos momentos e sentindo o nosso sabor.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.