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Lisérgico III, A Continuação do Imperfeito Contraditório: A Teoria Telepática dos Adjetivos Sobrepostos

O acaso vai interferir no renascer da criatura fétida que agora se esconde no barro da fazenda perdida. A viagem de volta será paga com favores sexuais que nem as prostitutas aceitariam fazer. O beijo na boca durante o reencontro poderá ser o mais complexo, perfeito, detalhista e erótico já dado em alguém, com direito a sinos batendo em dissonância triplicada. A cena se parecerá com algo filmado pelo Fellini. Corta.
Agora entra em ato um outro contraponto de pura piedade. Um assaltado seguido de estupro se passa em um beco escuro e úmido de alguma cidade grande. O garotinho apenas se vê em sangue. Pelas pernas. A fumaça densa incorpora na paisagem, engrandecendo o retrato marginal, como se tivesse sido tirado de um filme noir. Elizabeth Hurt ficaria contente caso fosse a protagonista viva, mas a morte até que lhe caiu muito bem. Corta.
Em outro ponto escuro, um raio de luz ilumina apenas os corpos entrelaçados. A mão escorre pelas costas com uma delicadeza doentia. Andy Warhol aparece ao redor de garrafas da Coca-Cola que, aos poucos, são estraçalhadas com tiros de uma metralhadora sônica, disparadas pelo Eric Clapton. Pensando melhor, ao invés do Clapton, coloquemos o Jimi Hendrix. Enquanto isso, o casal continua o beijo fatal em meio ao caos gratuito de pura satisfação não controlada. Corta.
As lágrimas chegam a causar uma dó desesperada enquanto o fluído vermelho continua escorrendo. Ele até que tenta se levantar, mas as suas pernas não obedecem. Do céu verde limão cai pingos de anfetamina. Aos poucos, todas as pessoas da cidade iniciam uma dança com coreografia saída de uma rave européia. Alguns deficientes mentais recuperam o que nunca tiveram, mas mesmo assim continuam dementes. É nesse momento que o assaltante escandinavo corre procurando a salvação, encontra um pastor evangélico e a sua verdadeira paixão: a religião. Mas é morto minutos depois por pagadores que não aceitam a violência e a morte gratuita. É contradição. Corta.
Segue a claustrofobia dos lábios. Desliza superior no inferior. Encontra o queixo que se entrega. Abre um pouco. Deixa-se tocar. Erótico. Um som interrompe e quebra o encaixe. O que se ouve a partir de agora é um ataque de violinos e violões cellos, como se os arranjos tivessem sido compostos por John Williams. Pássaros com cabeças de macacos e corpos de elefantes jogam bombas de Napalm sobre crianças desdentadas, muitas das quais eram anjos caídos, abandonadas por Deus. Corta.
Eis então que surge o renascer do ser que estava na fazenda. A figura do caos, acompanhado de seus quatro cavaleiros. O céu se abre em um azul perfeito. Não está calor, nem frio. Ameno. Um clima de alegria se inicia. O beijo recomeça. O assalto pára. O sangue não segue a escorrer. O buraco volta ao normal. A dança continua. Alcóol é servido. As crianças, que eram anjos, ficam bêbadas. A mão de Deus interfere e com um golpe massacra tudo. Os evangélicos se tornam felizes. Entretanto, eles também morrem. A vida continua. E... Corta!

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Dois

Do dicionário informal, a palavra "frustante" significa enganar a expectativa, ou seja, uma decepção. Apesar de ter sido uma delícia, no final, você resumiu com o adjetivo o ato. Também fiquei frustado. Mas de uma maneira diferente que a sua.  Como eu queria te satisfazer, não sentir o incômodo que me provocar reação perceptíveis que te deixam como uma lente sem foco, perdido à procura de uma imagem bela. O que eu posso dizer? Perdão. Continuarei conforme a vara for cutucando, até chegar a um acordo. Se você estará até lá comigo, isso não sei dizer. Acendi um cigarro para refletir a respeito, na sacada, admirando a chuva que caia. Pensei seriamente em dar um basta, cada qual cavalgando por estradas diferentes. Será que vale a pena? Sinto a presença do amor. Espero que eu não esteja errado quanto a isso, mesmo com os vários sinais que outrora você imprimiu. Enfim, vamos tentando ser dois. 
O barulho, o som, o tudo. As vozes, a esquizofrenia. Quem aguentaria? É preciso jogo, é necessário o respirar. Chega a ser jocoso, parece lacrimoso. O volume, os gritos, a conversa. O cansaço no mormaço. O não relaxar do momento. Os nervos, a fúria, o ventre. O vento que não entra E o apuro do socorro. A bagunça e a falta de concentração. A raiva que aparece. O berro que permanece. Aqui, mudo, em silêncio. Como haveria de ser. Mas não é. lsH
É preciso manter os dois olhos atentos, como se estivessem sedentos por sangue, por amor, pela conquista de um novo terreno, mesmo que seja árido, úmido ou magnífico. É necessário duvidar do que o mentor em sala de aula projeta, arquiteta e repassa, como se aquilo não fosse a verdade absoluta, pois existem outras maneiras de se obter as mesmas informações do que entre as quatro paredes. É mandamento, sobretudo, amar tudo o que você entende como essencial para viver e desregar o abismo incrédulo dos preconceitos, independente se você nasceu, se criou e permaneceu em solos repletos da hipérbole do tradicional, do convencional, do puritano e conservador. Mas, é fundamental interpretar.