Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de maio, 2009

madrugar_portisheadeano_________

"Roads" no fone de ouvido. Vela acesa. Cabeça repousando no travesseiro. Beth Orton, com a sua suave e melancólica voz, dá toda a razão ao penetrar no tímpano. "Ninguém consegue ver? Temos uma guerra para travar/ Nunca achamos nosso caminho, diferente do que eles dizem / Como pode parecer tão errado? Para esse momento, como pode parecer tão errado? Tempestade na luz da manhã / Eu sinto / Não posso dizer mais, congelada para mim mesmo". Respira. Inspira. Aspira. Expirra. A poeira da memória provoca sensações indeléveis, ainda mais com a trilha sonora perfeita para vasculhar o velho baú de lembranças. A imaginação a transporta ao mesmo local do primeiro sexo. Também do segundo, do terceiro e do quarto. Ela segura com os cílios a lágrima que não insistiu em cair. A solidão tem dessas coisas: proporcionar uma reviravolta mental. Tinha tanta esperança carregada no coração, presa em um colar que não tira nem para tomar banho. Mas, como toda e qualquer traição oferece i...

Cego Rever

Uma triste e bela canção arranca um pingo dos canais lacrimais. Faz-se forte a lembrança de um esquecimento que não se dissolveu. O causar de um arrepio viaja em alta velocidade através das veias. Foi mais um sonho ruim, mas eles aparecem na alta madrugada. A música contribuiu no relembrar: "Um caso por acaso Causou um desabar. Fracasso em sentir Um bom gostar. Travado um soltar de sentimentos Repudiou o decepcionar. Abriu com os olhos A falsa esperança de criar. Jogou morno um arquétipo de imaginar. Parou no momento em que deveria não fraquejar. Deixou-se ao ar, levando um fim. Traçou em memórias agonias sem iguais". O período dificultou os trejeitos do sentir. Revelou uma saída mortal de mentir. Foi triste a iguaria que bebeu. Amaldiçoou o alvo do acaso retumbante. Escorreu pelo ventre uma saudade definitiva. E sobreviveu na consequência do exuberante. Fechou novamente os olhos e se tornou a gostar. Deixou-se após o sofrer e seguiu pelos caminhos do romper. Cheirou a última...

A Canção que Você me Deu

Boa melancolia que me segue nesta manhã chuvosa. Não quero mais encontrar os motivos. Eu acreditava que quanto mais velhos ficávamos, menos dúvidas teríamos. Acontece justamente o contrário. Os anos passam e algumas razões não são esclarecidas. Agarro-me à música que você me deu a fim de me confortar com algo. Já passei da idade de ser um sofredor, mesmo o sofrimento ser considerado um sentimento sem idade. É difícil olhar as pessoas ao redor que remetem as suas características. Mais estranho é perceber que todas se parecem contigo, mas você não se parece com elas. Não consigo explicar. É confuso. Ontem a noite fiquei me emocionando. Estava sozinho, em frente ao computador, vendo um trailer de um filme brasileiro. Ele me lembrou algumas situações que, incrivelmente, ainda não vivi. Senti falta de algo que ainda não tive contato. Pirei. Acendi um cigarro, mesmo não sendo um fumante, só para tentar sentir o seu hálito. Sinto falta. Quarto com meia-luz, Mark Lanegan na vitrola, troca de c...

O dia em que pato-branquenses e beltronenses se encontraram na capital

Concentração pré-Oasis vira catarse em bar irlandês ao som da Radiophonics Parecia um bar da região, não pela arquitetura e decoração, e sim, pela quantidade de figuras carimbadas. Os rostos eram conhecidos. A banda, idem. Só a cerveja popular do local não era a mesma consumida com frequência no Sudoeste. O lugar da festa, Sheridan’s Irish Pub, definido como um bar irlandês, foi o ponto da reunião dos pato-branquenses e beltronenses que seguiram à capital do Estado para curtir um grupo britânico, mas acabaram um dia antes, graças à agenda, prestigiando a sudoestina Radiophonics, que recentemente fechou contrato com o bar. Há tempos a banda pensava em alçar vôos maiores, fugindo do esquema-estrada-Pato-Beltrão. Inclusive, chegaram a tocar em São Paulo, capital, quando puderam divulgar o CD demo “Mosaico”. Algo que agora está acontecendo em Curitiba, onde o grupo tocará todas as sextas-feiras no Sheridan’s, localizado no meio da concentração de bares do Batel. Após uma chegada conturbada...

Duo

Horóscopos mudados. Propósitos razoáveis. Desculpas sinceras. Aceitas depois. Referências abstratas. Motivos explicativos. Joguetes do destino. Consequências variáveis. Conversas destruidoras. Invertidos sentidos. Amor demais. Menos amor. Pensamentos noturnos. Estradas vazias. Soluções difíceis. Infeliz aniversário. Cigarros comprados. Pagamentos atrasados. Momentos alegres. Momentos tristes. Ambiguidade saliente. Sentimento exacerbado. Choro bebido. Tabaco apagado. Complicado viver. Vida segue. Tanta dor. Comunhão alguma. Divisão outrora. Celular desligado. Jantar confiscado. Passado presente. Presente futuro. Futuro passado. Dizeres de impacto. Ausente dizer. Mais melancolia. Dia e noite. Noite e dia. Sortimento furado. Esperança depois. Sonhos claustrofóbicos. Crises constantes. Sexo trocado. Opostos ligados. Culpado expresso. Confesso sim. Produtos sentimentais. Palavras adiantadas. Bebidas ingeridas. Capsúlas indigestas. Festas vividas. Troca e metade. Duas diferenças. Verdad...

A perfeita tradução da idiossincrasia

Sem o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o ficcional não seria tão verdadeiramente pitoresco Parafraseando uma clássica frase do filósofo Nietzsche, o cinema sem as películas de Pedro Almodóvar seria um erro. O exagero é necessário, afinal, não se trata de um normal, mas da pessoa que consegue tirar graça das tragédias. O diretor espanhol possui mais peculiaridade do que a invasão dos Estados Unidos no Iraque, do que a derrota da seleção brasileira na Copa de 1998 e do que a morte de Getúlio Vargas. Ele é praticamente a melhor tradução da idiossincrasia. As suas mulheres bizarras são sexys, os seus personagens são afavelmente caricatos, seus roteiros são miscelâneas de absurdos deliciosos e suas metáforas visuais são deleites antropofágicos para os puristas. A extensa filmografia de Almodóvar iniciou em 1974, quando dirigiu dois curtas-metragens, “Film Político” e “Dos Putas, A Historia de Amor que Termina en Boda”. Herdeiro direto da linguagem pitoresco-criativa do diretor Luiz Buñuel...
Em seu ar Livre eu vou Não importando O tempo Incorporado Ao vento. Paraliso o clima, Volto ao sol E nunca me lamento. Em sua água Não me desencanto E sigo calmo O seu canto. Penso sempre Em suas costas As mais belas Já registradas Pelas retinas Hoje cansadas De voltar.
Na impressão da letra torta revela as vontades das felicidades vorazes. Atrozes gostos de critérios milimetricamente estudados, tudo para satisfazer os desejos solicitados. Lado avesso dos sentimentos, por assim dizer, graças a violentas noites de prazer roubadas a golpes de alcatrão. Jorge Drexler dava razão enquanto o ponteiro maior do relógio seguia o seu cotidiano de matar os minutos. Segue para o copo mais uma coragem líquida a fim de continuar o testemunho exacerbado de delicadezas fraseadas. Em um momento interrompe a ação e viaja em pensamentos outros. Segundos de fragmentos imaginados junto ao transtorno bipolar que envoca um novo gole de vodca. Literatura chinesa vendida pela Acadêmia de Letras como retrato paraguaio. Certos pensamentos, de fato, ficam sem nexo, soltos, hipérboles. Resquícios que acabam desconcentrando o raciocínio. Como a frase ali agora pouco lida. Retorna ao centro do epicentro centralizado na ponta do centralizador. Por pouco escapou do meio. Um meio abra...
Meu underground. Minha memória sem lembrança. Minha lembrança sem memória. Meu livro sem frases. Meu canto sem lados. Minha dislexia sem consoantes. Minha música sem nota. Meu grito sem voz. Meu tempo sem espaço. Meu teclado sem letras. Minha queda sem ar. Meu relógio sem ponteiro. Meu passado sem história. Meu futuro sem previsão. Meu signo sem horóscopo. Meu amor sem sentimento. Minha sinuca sem caçapa. Minha tristeza sem razão. Meu coração sem artérias. Minha fotografia sem luz. Meu calendário sem datas. Meu concreto sem cimento. Minha planta sem semente. Meu genoma sem pesquisa. Meu prato sem comida. Meu underground... ... Minha simples ironia.