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madrugar_portisheadeano_________

"Roads" no fone de ouvido. Vela acesa. Cabeça repousando no travesseiro. Beth Orton, com a sua suave e melancólica voz, dá toda a razão ao penetrar no tímpano.
"Ninguém consegue ver? Temos uma guerra para travar/ Nunca achamos nosso caminho, diferente do que eles dizem / Como pode parecer tão errado? Para esse momento, como pode parecer tão errado? Tempestade na luz da manhã / Eu sinto / Não posso dizer mais, congelada para mim mesmo".
Respira. Inspira. Aspira. Expirra. A poeira da memória provoca sensações indeléveis, ainda mais com a trilha sonora perfeita para vasculhar o velho baú de lembranças. A imaginação a transporta ao mesmo local do primeiro sexo. Também do segundo, do terceiro e do quarto. Ela segura com os cílios a lágrima que não insistiu em cair. A solidão tem dessas coisas: proporcionar uma reviravolta mental.
Tinha tanta esperança carregada no coração, presa em um colar que não tira nem para tomar banho. Mas, como toda e qualquer traição oferece inícios, também possibilita fins. A cicatriz do passado já se fechou, no entanto, provoca dores de vez em quando. A sofreguidão de alguns atos provocam esse descarrego, pensava ela, iluminada pela luz da vela.
Naquele momento, "Strangers", outro petardo sônico a acompanha na trip da ressaca do pensar:
"Alguém pode ver a luz onde a aurora encontra o orvalho e a maré sobe / Você percebeu, ninguém pode ver dentro da sua visão / Você percebeu porque essa visão pertence a você".
Fechou os olhos e abriu um sorriso como se tivesse decifrado um enigma, enganado o pensar, respondido o destino. Ela abraçou o travesseiro e dormiu em um sono alucinante de paz frenética que nenhuma concepção pode explicar. Somente ela e o seu madrugar.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.