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A Canção que Você me Deu


Boa melancolia que me segue nesta manhã chuvosa. Não quero mais encontrar os motivos. Eu acreditava que quanto mais velhos ficávamos, menos dúvidas teríamos. Acontece justamente o contrário. Os anos passam e algumas razões não são esclarecidas. Agarro-me à música que você me deu a fim de me confortar com algo. Já passei da idade de ser um sofredor, mesmo o sofrimento ser considerado um sentimento sem idade. É difícil olhar as pessoas ao redor que remetem as suas características. Mais estranho é perceber que todas se parecem contigo, mas você não se parece com elas. Não consigo explicar. É confuso.

Ontem a noite fiquei me emocionando. Estava sozinho, em frente ao computador, vendo um trailer de um filme brasileiro. Ele me lembrou algumas situações que, incrivelmente, ainda não vivi. Senti falta de algo que ainda não tive contato. Pirei. Acendi um cigarro, mesmo não sendo um fumante, só para tentar sentir o seu hálito. Sinto falta. Quarto com meia-luz, Mark Lanegan na vitrola, troca de carinhos, poesias e vinho tinto. Isso não foi experimentado, porém, sinto falta. Você deve achar que estou ficando louco, perdendo a razão e o controle. De fato, não sei explicar. Confesso que não se trata de desespero, pois estou tranquilo e curtindo a melancolia com uma sagacidade que não imaginava ter. É saudade, isso eu tenho certeza. Mas do quê?

Não quero parecer um lunático como um personagem de David Lynch. O meu lúdico, agora, é vivenciar essas dúvidas, essas incertas que são certas. Afinal, a única certeza é o incerto que sou, com todo o perdão da redundância. Se era para causar impacto, a frase ficou mais parecida com um trocadilho de alguma letra do Humberto Gessinger. São tantas besteiras que acabo me divertindo sozinho nesses devaneios que relato. Sou quase um ator da minha sobrevivência, interpretando um eu que fantasio sem preguiça. Confundo o real.

E agora, aqui, nessa manhã chuvosa, com um céu cinza de uma bobeira modesta, abro um sorriso torto, tendo como conforto a canção que voce me deu. Um outro personagem que sigo interpretando. Um outro fato que sigo relatando. Um outro amor que não é meu. Uma outra situação que não vivi. Um outro beijo que não ganhei. Um outro imaginário que não sou eu. Uma outra confusão que absorveu, ficou no corpo e não morreu.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.