Agora tem bateria, alguns já disseram. Outros indagaram: - precisava regravar um hit do Calcinha Preta? Se isso se trata de evolução, claro, pode ser, por que não? A Tiê conseguiu fazer mais do mesmo em seu novo álbum, “A Coruja e o Coração”, com pitadas de ousadias e um repertório redondo.
O trabalho possui regravações, dessa maneira, não cabe aqui o caráter novidade, afinal, os atentos de plantão já conheciam “Só Sei Dançar Com Você” na voz de Tulipa Ruiz e “Mapa Mundi” na voz de Thiago Petit. O que difere, lógico, é o desenho do arranjo. Na primeira, um banjo enfeita a camada sônica para que Tiê lance a doçura da sua interpretação nessa crônica do amor. Na segunda, também acompanhada de banjo, a valsinha ganha vocal dobrado e continua na mesma linha sensível interpretada por Petit. Resumindo: ficaram lindas.
A poética simples e direta encontrada em “Sweet Jardim”, primeiro disco da ex-modelo da Ford, permanece em “A Coruja e o Coração”. “Perto e Distante” é um ótimo exemplo, que ganha destaque na metade da faixa com um sopro melodioso que ilumina o lado mais escuro da vida. A música tem a participação do cantor uruguaio mais brasileiro da atualidade, Jorge Drexler.
A audácia de fato está na regravação de “Você Não Vale Nada”, revertida com castanholas em um ritmo espanhol. A letra emoldurada pela voz de Tiê ganhou mais sentido, sobretudo àquelas pessoas que recentemente terminaram um relacionamento. Se a Maria Gadú vomitou sentimento em “Baba Baby”, a Tié engrandece o hit do grupo Calcinha Preta.
“A Coruja e o Coração” é bonito, repete algumas ideias, mas o conforto escolhido por Tiê ainda é o correto. Ao menos ela não ousou em colocar ruídos eletrônicos para disfarçar a falta de talento, afinal, habilidade a cantora tem.
Leonardo Handa - Jornalista