A gente se apega. Não importa em o quê. Objetos, álcool, times de futebol, política ou economia. Um sentimento sempre existe. Às vezes ruim outrora bom. Além das pessoas – o apreço mais saliente que podemos manifestar com amor – quando se envolve animais de estimação, com o perdão do trocadilho, o bicho pega. Aos que não se emocionam ao ver um balançar de rabo de um cãozinho, minhas sinceras desculpas: mas têm certeza que aí bate um coração? Ou apenas um músculo bombeando o sangue através do corpo? Parafraseando o Nietzsche, acredito que a vida seria um erro sem a presença de um cachorro. Como diz aquele comercial, ele é tudo de bom. E é justamente quando que a gente se apega que o bicho pega. Pega bolinha, pega sandália, pega meia, pega chinelo, pega travesseiro, pega tudo. Dependendo do temperamento, alguns até pegam fezes. É isso mesmo, fezes! A ideia desse texto não era fazer uma lembrança ao Marley, mas quando esses seres que a gente tanto se apega desaparecem fisicamente de nossas vidas, novamente, o bicho pega. Pega tristeza, pega falta e pega lágrima. Hoje fiquei sabendo que essa “pega” atingiu a minha irmã, que lindamente está esperando um nenê. Cecília, até não mudarem de ideia. Ela e meu cunhado tinham uma safadeza em forma de cadela, a Polaca, uma desengonçada de pernas finas e agito mil. Seus olhos escuros se destacavam e suas orelhas pareciam dois radares estragados que mesmo assim estavam atentos a tudo. Seu focinho fino não podia perceber um cheiro de comida que logo seu corpo correspondia em frenéticos sinais de solicitações alimentares. A graça da sua manha em pedir um afago era certeira: o carinho era logo correspondido. Algumas vezes a Polaca veio a Pato Branco, cidade a qual resido com meus pais, mostrar as suas peraltices. Ela também fazia companhia à minha cachorrinha, a Pheebe, que, enfatizando a sua personalidade, recebia-a aos ciúmes, rosnando, latindo e pulando. A Pheebe não é fácil. Seu sentimento de posse é pior do que mulher que ama demais. De toda a maneira, a Polaca sempre foi bem recebida, mesmo com a sua particularidade ímpar de gostar de pegar fezes, algo que ela perdeu com o tempo, assim como perdeu a vida, atropelada por um automóvel. É nessas horas que o bicho pega. Lassie, santa dos cães, receba bem a Polaca, que vai continuar as suas peraltices em outro plano, assim espero. Afinal, o que seria dos cachorros sem as traquinagens? O bicho pega na lembrança, mas, minha irmã, mesmo ninguém sendo substituível, guarde todo afeto bom. A Polaca não se foi, ela te ensinou. Leonardo Handa