Pular para o conteúdo principal

Grande Chico

Perdi o sono. Ele estava comigo até agora pouco, mas fugiu de uma maneira que nem consegui acompanhá-lo. Aproveitei para fazer um dever de casa que estava atrasado há mais de um mês: ler a entrevista do Chico publicada na Rolling Stone.


Para acompanhar a leitura, tirei da poeira alguns discos desse grande mestre e pus na vitrolinha. Confesso que me atrapalho um pouco quando leio ouvindo música, pois fico prestando atenção na melodia, não necessariamente na letra, mas no jeito como ela é cantada. No momento em que o Chico estava falando de política, deixei a mente penetrar (ou seria o contrário) no cantar de "O Meu Amor", do disco "Chico Buarque", de 1978, interpretada por Marieta Severo e Elba Ramalho, originalmente feita para a peça "Ópera do Malandro". O diálogo entre as personagens Teresinha e Lúcia, sobre o mesmo homem, é engraçadíssimo. Ao menos interpreto dessa forma, apesar da traição não ser nada engraçada. Adoro a parte "O meu amor tem um jeito manso que é só seu, de me deixar maluca quando me roça a nuca e quase me machuca com a barba malfeita e de pousar as coxas entre as minhas coxas quando se deita". Pensei em várias coisas que aconteceram neste ano, mais precisamente, no início de 2011.


Mas o que me atrapalhou totalmente a leitura da entrevista foi no momento em que troquei de disco e mergulhei por inteiro em "Meus Caros Amigos", de 1976. Ali tem uma música chamada "Olhos nos Olhos" que me trouxe flashbacks tratorizantes. "Quando você me deixou, meu bem, me disse pra ser feliz e passar bem. Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci, mas depois, como era de costume, obedeci. Quando você me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer. Olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que sem você eu passo bem demais. E que venho até remoçando, me pego cantando sem mais nem porquê. E tantas águas rolaram, quantos homens me amaram bem mais e melhor que você. Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz". A letra manifestou outro significado para mim, muito estrondoso. Passado e futuro em eterna confusão, como é atualmente. Somente o Chico desperta isso.


Enfim, depois de apreciar todo o álbum, retomei a leitura e consegui terminar a dita entrevista, cuja chamada de capa dizia que era definitiva. Não me enganei. No entanto, ao final, não sei o porquê, lembrei que definitivo mesmo foi o que um ex-amigo me disse: orgulho mesmo seria saber que a minha esposa me traiu com o Chico Buarque!

Postagens mais visitadas deste blog

um gole de derrota nesse asco. um casco entre as unhas, colabora. o copo quebrado acumula pó e o nó na garganta é charme. a calma quer explodir em caos para um fundo em furo se enfurecer na poética dissonante de um crescente anoitecer. mencionado antes, agora exposto "o mundo está duas doses abaixo" por mais que às vezes, acima, recria o oposto da colocação. então, não tenha medo hora ou cedo o coração padece e merece um aproveitar que tenha como fim o sorrir. (mas não acontece).

Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.