Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2006

O Vento

Um sorriso estranho, demonstrando alegria. Não se cansa de ouvir O Vento para deixar escapar a felicidade de admirar a canção. A adoração à frase "não dizer o que eu penso, já é pensar em dizer" reverbera inúmeras vezes nos ouvidos abertos. O fantástico se faz em brilho nos olhos que continuam a acreditar na sorte, mesmo não confiando no destino. De qualquer, "é de lágrima" que derrama a alegria. O viver tem os seus desatinos, mas "o olhar que não enxerga mais" pede a luz, "neste momento menor", "a gente quer ver... horizonte distante". Porém, mesmo fazendo citações de uma outra canção hermaniana, é com O Vento que vem a demonstração de contentamento. Difícil explicar as inúmeras sensações e interpretações que a canção causa na cerne, disposta a receber o amor que insiste em permanecer calado. Nada realiza para alterar a situação. O discreto danifica certas exposições. Mas o coração, que é tão vagabundo, ainda quer o pulsar. "Doces...

Alcanço puto, assassino puta

Faça um ponto de fuga estratégico. Ele terá que ser bem planejado, pode ter a certeza. Caso não for, então corra, pois você vai querer se matar. Se não quiser, relaxe, eu mesmo te matarei. Não uma questão de desapego, eu simplesmente mudo. Mas também falo e escuto. Eu certamente fico, desfaço e crio novamente. Então, arquitete a fuga, o ponto pode estar na sua testa. Cause um espanto. Destrua um tanto. Estarei, enquanto, olhando para o santo. Não acredito, portanto, aguardo em um canto. Distorça a rima a procure um pouco, o algo ficará em desencanto. Falta coragem? Que seja covarde, acalanto. A solução não existe. Ainda não foi recriado o impossível. Seja sincera, serena. Enquanto me canso da canção, reflito o mal-dizer. O meu bem já se foi. De muito penar, morreu. O cálculo errado se fez culpado, gerando a vida que destruiu. Ela se refez, ficou em contradizer. Como eu. Como tu. Devorastes toda. Foda.

Wado e Realismo Fantástico

Tem uma banda que está causando sérios danos em meus tímpanos. Trata-se do Wado e Realismo Fantástico, mais precisamente, o álbum A Farsa do Samba Nublado. Os dois primeiros Cds, Manifesto da Arte Periférica e Cinema Auditivo, são ótimos. Porém, contudo, senão, o terceiro é essencial. Não me arrisco em dizer que é um dos melhores lançamentos dos últimos cinco anos. Misture poesia com sacadas musicais de quilates ímpares, acrescente efeitos eletrônicos, ritmos brasileiros e referências pop. Uma belezura. Deixo no post a letra de Deserto de Sal, do disco A Farsa do Samba Nublado. Coisa rica. Deserto de Sal (Wado/Alvinho) Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda: então seria pior Ainda há esperança no chorar soluçante, no cantar gritando Nos ombros, como papagaios, carregava corvos E dentro dos lábios o silêncio mudo No peito um cemitério de ex-amigos mortos E enterrar os mortos, desapegar dos ossos Confirmava a vida o que é bom: desprendimento Ainda há vontade de andar: o que é bo...

Gozada

Uma outra noite em fé de sono que não chega. A companhia dessa vez é o café, a fumaça e The Editors. A referência joydivisiana ecoa, tanto nas linhas de guitarra como no vocal quase chorado. Ela pouco conhece a banda, apenas sabe que lhe faz bem. A canção que mais entoa no ouvido é Lights. Apesar do título, quase nada a ilumina. Somente a luz do poste e a brasa do cigarro. A noite não foi de trabalho. Resolveu tirar folga de si mesma. Deitou em seu sofá, ligou o som e se deixou transportar pelo calor/frio das músicas. Acabara de baixar a bolachinha The Back Room, um título bem apropriado para o momento pelo qual estava passando. Acendeu uma bituca e viajou. O barulho infernal dos carros na rua não mais a incomodavam. O fone de ouvido era muito bom. Importado. Gentileza de seu vizinho contrabandista. Quando iniciou os primeiros acordes de Camera, ela se transportou imediatamente à infância. Se imaginou sendo balançada pelo seu pai, depois brincando com seu meio-irmão e logo após levando...

Minha viagem do fim de semana...

Tudo começou tranqüilo. Eram 6h da madrugada. A viagem prometia doses homeopáticas de risadas. Não só prometeu como as gargalhadas realmente vieram. O ônibus chegou atrasado, mas chegou. As pessoas interessadas em conhecer alguns meios de comunicação adentraram no veículo e se mandaram para o Oeste de Santa Catarina. Os outros que queriam diversão também foram pelo conhecimento, porém, tinha que ser divertido. Cada qual se ajeitou em um lugar. O fundo ficou reservado aos sagazes, que iniciaram o processo de truco, seis, nove, doze. A ida foi muito calma, conforme o combinado. Alguém que dormiu quase a viagem toda, ficou curtindo um som super bacana do Wado e o Realismo Fantástico. Os Pixies também tiveram a vez. Pois bem, rápida parada para um café da manhã e logo os primeiros arrotos foram esbravajados em plena luz do dia. Não que seja proibido o arroto na manhã, é que a noite eles fazem mais sentido. A programação iniciou em um jornal diário, depois vieram as TVs e as rádios. Todas d...

F-I-A-S-C-O

Existem tantas coisas para chamarmos de fiasco. Aliás, que palavra lírica, não acham? Acho o conjunto de sons que "fiasco" forma tão melodioso. Algumas sílabas parecem tão perfeitamente encaixadas, sônicas, perfeitas. Tenho a impressão de que "fiasco" foi arquitetada na precisão mais estratosférica que o seu sentido quer significar. Detalhe por detalhe, encaixe por encaixe. Certeiramente sutil, mas com força extrema em seus sons. Ótima em ocasiões de fúria perversa ou em rebaixamentos de escalões exacerbados. "A vida é um fiasco". "O ser humano é um fiasco". Que poder que a palavra exerce, não concordam? F-I-A-S-C-O: simples, três vogais, três consoantes. A sílaba tônica passa despercebida se você analisar com ouvidos desafinados. Mas, mesmo assim, ela é capaz de estourar tímpanos, dependendo da maneira como é profanada. Pode causar lágrimas, términos de relacionamentos, catarse coletiva, vinganças premeditadas. Ferimentos expostos na tônica domi...

Amor Amigo

Existem tantos tipos de amores que não caberiam nos pêlos da virilha. Assim como a penugem, alguns sentimentos amorosos ficam escondidos em um canto estrategicamente planejado. Tanto faz o local, quanto mais oculto melhor, dependendo do gênero de amor, é claro. Mas, de todos os joguetes e estilos, o amor amigo é um dos mais sinceros e viscerais. Quem ama prova. Às vezes demora. Quando vem, é seguido de um dilúvio de palavras e carinhos, com direito a contradições em verbetes necessários se o acaso solicitar. As conversas ficam mais deliciosas, com pausas que por vezes se tornam silêncios importantes para as reflexões sobre o assunto discutido. Em outros amores, as pausas entre as frases se transformam em desconforto imediato. Já no amor amigo, o silêncio não é desagradável, chega até ser refrescante, como aquela cerveja gelada degustada em um dia intenso de verão em um bar a beira-mar onde a brisa marítima bate calmamente no rosto. O compromisso pré-estabelecido no início do amor que, ...

David Bowie e Neil Young

O velho David Bowie me traz algumas razões nesta noite fria. Como já disse o bom vinho que é o Neil Young, "rust never sleep" (a ferrugem nunca dorme). A citação a esses dois ícones da música é por uma boa razão. A sensação sonora que ambos proporcionam é de rachar o ouvido mais gélido. Difícil achar o significado mestre a respeito de Bowie e de Young. O certo se torna incerto, o correto se transforma em incorreto e o ambíguo vira amigo, conforto em música que esses roqueiros adicionam em temperaturas baixíssimas como as da região sulista do país. Se fosse na Inglaterra ou nos Estados Unidos os sentimentos seriam mais soberbos. Mas, como cabe aqui a contradição, por essas plagas os sentidos são os mesmos, afinal, a música deles é universal. Interessante é ouvi-los em um mesmo dia, devorando os dizeres que cada qual reverbera em canções emblemáticas. Os tempos de ouro deles já se foram, por vezes vomitam obras ainda alimentícias. Porém, também erraram na carreira que levaram n...

Envelhecer é se deixar estar

É difícil aceitar que o envelhecimento é algo inevitável. Em algumas pessoas esse fato se torna doença. Hoje em dia existem vários processos para tentar retardar as gravidades da idade. Tanto faz se é botóx, lipoaspiração, massagens estéticas, geléias no rosto, banho de argila importada da Tasmânia e demais opções que às vezes soam como burlesca. Melhor ainda é se deixar levar pelas ações das intempéries da condição humana. Envelhecer com dignidade é a conseqüência mais aceitável, menos aos hipérboles e suas manias de juventude acima de tudo. Aquele ditado que "quanto mais velho melhor" poderia ser levado mais a sério. É legal observar os corajosos que aceitam os seus cabelos brancos, as suas rugas de experiência, a queda desenfreada de cabelo, a falta de colágeno na pele. Não se trata de vaidade, o negócio aqui é saber se por no lugar. Não é porque a velhice chega que algumas pessoas vão se privar de certos prazeres. Para quase tudo há a quase solução. Só não existe quase ve...