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A febre do baixio das bestas - em homenagem ao Cláudio Assis


A febre que ama é a mesma que mata. Ela explode nos tímpanos e desemboca nos lábios, em saliva quente de virose. O ar é sufocante. As tragadas têm gosto de podre. Os olhos ardem em lacrimosas gotas de sal. A pele da boca apresenta erupções lindamente exageradas, espirrando um tanto pouco de sangue. A visão dupla confunde ao dirigir. O certo seria um repouso, mas o ousar é conseqüência. O exato seria dormir, sem o sono mínimo de carência. O carinho agora é da febre que traz a imagem morena junto à mente. Toque. Deslize. Beije. Seduza. Abrace.


O tremor constante alivia a angustia de tossir. Uma bola de excremento alimenta o chão de pedra e cimento. O fôlego falta em uma ata mal escrita a respeito da vida. Outras crianças mortas aparecem acompanhadas de tarjas-pretas nos rostos. Faces infantis da febre humana genocídia de quem ama, porém, também mata. Não há clareza, a vontade é de estuprar essas faltas de valores. Ela explode nos tímpanos e desemboca nos lábios, em saliva quente de virose que pinga em um pescoço de 12 anos. O ar é sufocante. O da criança. As tragadas têm gosto de podre. Meu bem, meu querido vício de cada dia sustentado pelo caminhoneiro molestador. Os olhos ardem em lacrimosas gotas de sal que na hora do sexo espirram. A pele da boca apresenta erupções lindamente exageradas, com um tanto pouco de sangue, vindo de uma surra de couro. A visão dupla confunde ao dirigir o corpo ainda drogado pela rodovia ao retornar para a casa. O certo seria um repouso, mas o carinho da febre que traz a imagem morena junto à mente, provavelmente a sua mãe, está morta e enterrada no sertão da Paraíba. Que dó da criançada.

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Fim

  É tanto vazio nesse espaço cheio É tanto desamor nesse amor É tanta sofrência nessa alegria É tanta felicidade nessa tristeza É tanto amigo nessa solidão É tanta falsidade nessa realidade É tanta falta nessa plenitude É tanto concreto nesse verde É tanta abstinência nessa bebida É tanto início nesse fim.

Oportuno

Os dias frenéticos me interropem os prazeres. Os pequenos detalhes seguem despercebidos, Nem a velha canção funciona e não emociona. As horas estão lotadas neste pensamento aflito. Eu procuro um grito, mas o perco no vácuo. Faço do coração apenas um pulso de sangue E não vejo que de fato ele quer uma percepção. Eu passo um risco no instante que quero. Preciso de calma mesmo querendo o agito. Fico aos nervos quando necessito de paz. Recorro à memória e me sinto traindo. Nos segundos falecidos eu vejo a derrota E amplio com dicotomia, pois não é a verdade. Trato o acaso como um passado empoeirado E reflito neste pouco que nada está atrasado. Tudo se trata de período contido Que poderá ser resgatado em um dia oportuno.
Rodopie linda com o seu vestido febril. Deixe as flores atingirem o seu rosto. Dancemos ao som de City Pavement. Fotografemos as faces em frias manhãs. Deitemos de novo em um ninho de edredon. Deslize devagar pelo meu pulso acelerado. Respire meu ar. Um café da manhã em Vênus, acordando em Elizabethtown, como se fosse uma lenda. Ao lado do universo, ninguém tira as nossas chances. Temos sempre mais um habana blues, um tango, uma dança suja. Uma nova canção desesperada para apreciarmos. Um eterno registrado. Cada qual. Cada em si. Em mi maior.