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História fictícia

Alta madrugada. Não sei que horas são exatamente, meus olhos não registram muito bem o momento. Meu fiel companheiro, o cigarro, exerce função fugaz para com o período. Não lembro de ter sentido medo, mas recordo do seu beijo. As luzes da Marechal Deodoro parecem mais poéticas quando a anfetanima patina pelo cérebro. Adoro caminhar na solidão do asfalto sob o efeito do ilícito.
Alta madrugada. Resolvo tirar as botas para sentir o frio do concreto. Acendo um outro cigarro que não é para ficar só. Invento uma canção vagabunda enquanto percebo a sola do pé sangrar. Vejo alguns carros passarem, bem longe. Uma moça de cabelo claro corre fugindo de algum pilantra desocupado, sem sono e sem dinheiro. Não ligo muito para a situação, pois o meu destino é outro.
Alta madrugada. Estou cheirando a uísque falsificado por crianças chinesas que moram no Paraguai. Continuo a minha caminhada rumo ao nada do seu coração. Encontro a chave do apartamento escondida em baixo de um capacho com os dizeres "bem vindo". Acendo a luz e um corpo desnudo anuncia um sono profundo no sofá da sala. O cheiro de cigarro está preso no local. Abro uma janela somente para sentir o vento soturno visitar o meu rosto. Estou com um pouco de sono e com os pés sangrando. Vou ao banheiro e tomo uma ducha de água fria. Adoro a dor do corte de encontro com a água. Enxugo-me com uma toalha branca. Volto para a sala segurando um outro cigarro recém nascido com a ajuda do meu isqueiro Bic. Admiro o repousar tranquilo da criatura que um dia disse me amar. Deito-me junto, coladinho e ouço a voz sussurando: - Bem vindo ao lar.

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Acertos maus

Contato ausente Em pele quente Que arde dor De passado beijo Desfeito antes Recriado oposto Delicado gosto. Mentira exposta Na boca torta De beleza oca E fala morta Que acabou O amor incerto De brigas boas, Acertos maus, Vontades outras, Saudades poucas. Ainda há bem Outrora ruim Um desejo em mim De tragar o fim Engolindo gim.
Para o amor, o bastar O exagero, o gostar A carícia, o acordar O café, o sorrir A voz, sussurrar O beijo, o selo O abraço, o continuar lsH
Patti Smith me dá razão nesta madrugada. Tentei ser, pelo menos, amigável, mas confesso que fui um pouco falso, torcendo para que não aconteça o que você tanto quer. Acendi meu cigarro e fiquei pensando: para que ser assim? Vou ganhar alguma coisa? Não. De maneira alguma. Talvez eu esteja cansado de ser o bom das histórias. Um grande amigo meu, certa vez, me disse: Léo, o problema é que você é muito bonzinho. Não é exatamente isso que as pessoas as quais nos apaixonamos querem? No meu caso, parece que não.  Por isso que agora a Patti me dá razão, principalmente por causa dos versos: "i was thinking about what a friend had said, i was hoping it was a lie". Sim, eu me sinto culpado de ser o bom da história. Se isso acontece, se de fato sou assim, por que sou chutado? Pois é... Think about.